Nessa semana, o Facebook tomou duas decisões de repercussão mundial relacionadas à figura do presidente norte-americano Donald Trump. A primeira delas, que ocorreu na quarta-feira (5), consistiu na exclusão de uma publicação de Trump, feita sob o pretexto de que a mensagem continha, supostamente, informações falsas a respeito do coronavírus. Já na quinta-feira (6), a mesma empresa derrubou uma rede de dezenas de páginas de apoiadores de Trump. A rede era sediada na Romênia. Dessa vez, o motivo alegado foi o “comportamento inautêntico coordenado”.
As justificativas para essas ações têm, todas elas, um apelo fortemente moral. O fato de Trump ser uma figura extremamente impopular e fascista, que ameaça a esquerda e todos os povos diariamente, também contribui para que as decisões do Facebook sejam encaradas como algo legítimo. No entanto, mais do que qualquer coisa, a censura do Facebook a Trump tem um caráter político, e que nada tem a ver com os interesses dos trabalhadores.
Antes de entrar propriamente nos interesses, vamos analisar de um outro ponto de vista a censura do Facebook, de modo a explicitar o caráter político das operações. O Facebook, considerando ainda que é gerido pela mesma empresa que controla o Whatsapp e o Instagram, é um monopólio das redes sociais. À exceção da Google, que tem o domínio da transmissão de vídeos na internet, pelo Youtube, o grupo Facebook-Instagram-Whatsapp possui muito mais usuários do que todas as demais redes sociais juntas. Nesse sentido, se um indivíduo sofre alguma sanção dessas redes sociais, estará sofrendo uma dura censura, sendo virtualmente banido do universo das redes sociais. Temos que lembrar, ainda, que Trump não só é um indivíduo, como um candidato à presidência da República.
A censura no Facebook, levada ao extremo, poderia ser equiparado ao caso de um candidato que seja impedido de falar na televisão. E isso os brasileiros entendem bem: as eleições de 2018 foram uma grande demonstração do poder de censura da imprensa contra a esquerda. Enquanto pré-candidato, Lula não teve o direito de participar das eleições. E, quando o PT definiu a candidatura de Fernando Haddad para a presidência da República, o Tribunal Superior Eleitoral chegou ao absurdo de proibir que até mesmo o nome de Lula fosse mencionado em propagandas do PT.
Os mecanismos de censura do Facebook, dado o grande porte da empresa, visam, portanto, interferir no resultado eleitoral. E, embora Trump não seja o líder popular que Lula é, o caso norte-americano apresenta alguma semelhança com o caso brasileiro: Trump não é o candidato preferido do imperialismo. Os setores mais predominantes da burguesia tem um outro candidato, e esse candidato se chama Joe Biden.
Representante da ala direita do Partido Democrata e sendo apoiado por milhares de ex-membros do governo Bush, Biden é um típico político do imperialismo. Seu programa de governo consiste em uma promessa aos capitalistas de seguir, à risca, os interesses dos monopólios capitalistas nos Estados Unidos e em todo o mundo, uma vez que a política externa norte-americana é um fator decisivo para a política mundial.
Sendo uma manobra do imperialismo, a censura contra Trump não deve ser comemorada pela esquerda ou pelos trabalhadores. É preciso denunciar o caso de censura, que facilmente se voltará contra a esquerda no momento em que o regime político achar conveniente, e organizar todos os setores oprimidos em um partido dos trabalhadores norte-americanos, que possa apresentar um programa operário e revolucionário para a crise capitalista, sem qualquer compromisso com Biden ou Trump.