O PT entregou na última sexta-feira, 15 de maio, um pedido coletivo para impeachment do presidente golpista Jair Bolsonaro. Eleito em meio a uma das mais escandalosas fraudes eleitorais de nossa história recente, Bolsonaro não deve ser tolerado no poder, precisa ser combatido e seu governo, posto abaixo, nem tanto por princípios gerais abstratos mas por que é reconhecida e declaradamente inimigo da classe trabalhadora.
O problema a ser observado é a fórmula encontrada pelo PT. O impeachment, longe de ser uma solução aceitável, implica em uma reprodução da tática adotada pela esquerda ao longo dos últimos anos, sempre com resultados catastróficos para os trabalhadores sob diversos aspectos pois propaga a ilusão de que a direita pode resolver os problemas da população.
Seja pelas “lutas” sindicais, travadas nos tribunais e entre advogados, seja pelo uso cada vez maior da burocracia judicial para intervir na política parlamentar, o que a experiência empírica demonstra, de maneira muito cristalina, é que antes mesmo do golpe, já não havia muita disposição por parte da direita em atender os trabalhadores num Bolsa Família que seja.
Com o advento do Golpe de 2016, essa disposição piorou sensivelmente. Uma brutal série de ataques aos direitos dos trabalhadores foi levada adiante nos últimos cinco anos, com o mais severo retrocesso político da classe desde o fim da ditadura militar.
Este problema não é de modo algum trivial, ao contrário. Na medida em que transfere o protagonismo da luta ao aparato burguês, a vitória tende a apresentar um caráter muito mais administrativo do que político. A queda de Bolsonaro enfraquece a burguesia de qualquer forma, porém com a adoção do expediente institucional e em detrimento da luta popular, na medida em que as massas não estão mobilizadas, a direita ganha tempo para se reorganizar e retomar a ofensiva, um fenômeno já observado com Collor e o avanço do neoliberalismo, nos anos 1990.
É fácil odiar uma figura tão grotesca quanto Bolsonaro, declaradamente serviçal da burguesia e soldado do imperialismo. A ameaça do regime comandado pelo fascista é muito expressiva mas não será solucionada com a mera troca do comando. A população, sobretudo os trabalhadores e a vanguarda dos movimentos populares, precisam não apenas participar como espectadores, produtores de hashtags mas serem os protagonistas da luta, o que só acontecerá com uma ampla mobilização das massas. Só assim, com o povo mobilizado pelo “Fora Bolsonaro”, uma vitória realmente significativa e voltada ao atendimento dos interesses da população pode ser conseguida.
