No dia 17 de abril de 2016, foi aprovado, na Câmara Federal, por 367 votos a favor e 137 contra, o processo de impeachment da presidenta Dilma Rousseff. Em um dos episódios mais grotescos e fraudulentos da história republicana do Brasil.
Exatos 3 anos e 84 dias depois, na última quarta-feira, 10 de julho de 2019, essa mesma Câmara aprovou por 379 votos contra 131 a reforma da Previdência, uma operação de roubo contra a população brasileira em favor dos bancos de proporções trilionárias.
Mas o que há de comum entre essas duas situações? Em primeiro lugar, ambas fazem parte do golpe de Estado no Brasil. A primeira, digamos assim, o ato número 1 do golpe. A segunda, um dos principais objetivos econômicos do mesmo golpe, uma política que condena dezenas de milhões de trabalhadores a morrer na miséria.
Mas a questão fundamental é que em ambas as situações a esquerda brasileira “caiu como um patinho” nas garras da direita, do golpe e do imperialismo. A política do “pressione seu parlamentar”, “se voltar não volta” é uma verdadeira ratoeira contra os interesses da população, que cotidianamente é esmagada por um Congresso que responde a interesses que não guarda relação com os interesses dos trabalhadores, ainda mais em uma etapa que é marcada pelo golpe de Estado.
Há, ainda, um outro elemento tão grave quanto esse, as mobilizações dos trabalhadores e da juventude que tivemos no período do impeachment e muito mais agora, são contidas e desviadas para servirem como meros instrumentos de pressão sobre instituições que foram e são instrumentos do golpe de Estado. O movimento ficou assistindo esperando derrotar a direita no Congresso.Terminou com um rolo compressor da direita passando por cima dos trabalhadores.
Quem não lembra das máximas do período de impeachment? “A Câmara não vai aprovar “, “o senado vai rever o impeachment”, enquanto isso, a esmagadora maioria dos parlamentares estavam no bolso do golpe.
O impeachment não serviu como lição. Diante da reforma da Previdência, diga-se de passagem, com um Congresso ainda mais direitista do que aquele que promoveu o impeachment, a história se repetiu como uma grande tragédia, e isso quando as manifestações de maio e junho reuniram milhões de pessoas contra a reforma, mas, principalmente, diretamente contra o governo, expresso na palavra de ordem que ecoou por todo o país “pelo fora Bolsonaro”.
Essa política de ilusão e capitulação diante das instituições teve um outro capítulo, ainda mais grave do que o que se assistiu diante do parlamento, se é que isso é possível. Lula foi perseguido, condenado e preso por um processo criminoso. Naquele momento, os “entendidos” políticos da esquerda também gritavam aos quatro ventos: “Moro não vai condenar, não tem provas”, “o TRF4 não vai referendar”, o “STF…”, o “STJ…”, blá-blá-blá… e Lula está preso há mais de um ano!
Aqui há um fenômeno que é comum a todos os momentos em que a história saiu da sua “normalidade” burguesa. Os políticos acostumados e viciados no discurso de púlpito, nas eleições parlamentares, no glamour parlamentar, perdem as estribeiras, desorientam-se, apegam-se na esperança da volta ao passado, na normalidade, na paz.
Muitos, inclusive, vão muito além. Querem reconhecer a todo o custo o “novo regime”, “virar a página do golpe”, chegando ao ponto, inclusive, de se aliar aos próprios golpistas. Embora estejam iludindo a si mesmos, essa é uma política muito perniciosa.
A política de aliança com o golpe é uma traição aos interesses dos explorados. É a política de desarmar a resistência e luta dos trabalhadores diante de seus inimigos de classe, criar a ilusão de que é possível algum tipo de convivência com os que depuseram Dilma, prenderam Lula, deram um golpe dentro do golpe e impediram a sua candidatura, elegeram com a fraude um candidato de extrema direita e que agora preparam-se para liquidar com um dos maiores planos de assistência social do mundo e condenar dezenas de milhões trabalhadores E para quê? Alimentar o parasitismo da especulação financeira.
Essa política fracassou de maneira acachapante. O movimento operário, os trabalhadores sem-terra, a juventude, precisam de outra política radicalmente oposta a essa. As mobilizações de maio e a greve geral do dia 14 apontaram o caminho. É preciso ir às ruas. Nenhum ilusão que os problemas dos trabalhadores, a luta contra a destruição da Previdência, possam ser resolvidas pelas instituições. Derrotar a reforma da Previdência nas ruas e na marra. Lutar pelo fora Bolsonaro, pela Liberdade de Lula é lutar para derrotar o golpe.