A Folha de S. Paulo estampou em seu site na terça (5), a manchete: Pesquisa do governo mostra que 2/3 da população querem militares ou Diretas-Já. Trata-se evidentemente de uma chamada ambígua, que dá a entender que 67% da população serias favorável à intervenção militar. Na verdade a própria matéria, assinada por Monica Bergamo, desfaz a confusão:
No auge da crise, um terço dos brasileiros, de acordo com as sondagens, defendia intervenção militar imediata no país. Outro percentual equivalente queria a realização de eleições antecipadas, e imediatas, para debelar a crise.
Ou seja, a população propensa a aceitar uma ditadura militar se mantém no mesmo patamar de 30% em que estava desde o início da crise política no país.
Sempre que a temperatura política aumenta, a imprensa golpista intensifica a manipulação de suas matérias – sobretudo nas manchetes e nas imagens, que funcionam como memes. Por vezes o conjunto visual exprime justamente o contrário do que consta no texto. A prática é tão descarada que não apenas motivou a criação do Manchetômetro do Laboratório de Estudos de Mídia e Esfera Pública, sediado na Universidade Estadual do Rio de Janeiro (UERJ), como também o site militante Caneta Desmanipuladora ou a coluna Tradutor, do Diário Causa Operária Online.
Na greve dos caminhoneiros, a imprensa golpista não operou de modo diferente. Por diversas vezes, anunciou antecipadamente o fim da mobilização, deu destaque aos setores mais direitistas da categoria, fomentou o medo a corrida aos postos de gasolina e supermercados. O boato mais marcante foi o agendamento de uma suposta mobilização nacional de caminhoneiros que deveria ter acontecido em Brasília no último dia 4 de junho, e que não contou com qualquer ato organizado (durante a noite, aproximadamente dez fascistas foram vistos com uma buzina em punho e nenhum caminhão em frente ao Congresso Nacional).
Na ausência de qualquer candidato de direita viável para o núcleo duro do golpe – os setores internacionais –, os jornais golpistas mantêm a campanha de apoio a uma ditadura militar. Essa propaganda cumpre um duplo propósito. Por um lado, mantém acesa a possibilidade de golpe das Forças Armadas – falando em intervenção como se fosse uma alternativa constitucional. Por outro lado, alinha-se com o discurso nazista de Jair Bolsonaro. O parlamentar é evidentemente um pária entre os golpistas, e sua candidatura à presidência não é vista com bons olhos pela própria direita, mas não deixa de ser uma alternativa popular a que eles possam recorrer em último caso.