À medida que a crise do capitalismo se aprofunda, intensifica-se a polarização política e a extrema-direita avança na conquista dos espaços políticos deixados pela esquerda direitista e pela direita tradicional. O cenário dos países europeus evidencia esse movimento: no último dia 20, as eleições provinciais preparatórias para as eleições ao Senado holandês resultaram na vitória da extrema-direita. Foram 13 cadeiras no Senado conquistadas pelo partido Fórum para a Democracia (FvD) cujo líder, Thierry Baudet, é marcado pelas declarações contra os imigrantes, além de racistas e machistas.
Logo atrás, no Senado, está o partido da direita tradicional Partido Popular para a Liberdade e a Democracia (VVD), do primeiro-ministro Mark Rutte, que conquistou 12 assentos. O outro partido de extrema-direita, o Partido da Liberdade (PVV), liderado por Geert Wilders obteve 5 cadeiras.
Nota-se que desde as eleições para a Segunda Câmara (deputados) em 2017, o partido da extrema-direita do PVV, de Geert Wilders tinha conquistado apenas 23 assentos, frente às 33 cadeiras do partido da direita tradicional VVD, fato comemorado pela direita. No entanto, nestas eleições ao Senado outra sigla nova da extrema-direita apareceu (FvD) e passou à frente da direita tradicional.
Importante destacar que o partido ultradireitista FvD não detinha nenhum assento no Senado até essas eleições. Para se ter uma ideia, em 2017 o FvD contava com 1.863 filiados e, em 2019, ultrapassava os 30.000 filiados. Essa ascensão meteórica da extrema-direita na Holanda não é um fato isolado na comunidade europeia: na Espanha a extrema-direita do partido Vox cresce cada vez mais nas casas legislativas; na Itália, com o Movimento 5 Estrelas e a Liga do Norte comandando o Parlamento e a Chancelaria; a tomada pela extrema-direita do governo e do parlamento desde o golpe na Ucrânia em 2014, representada, hoje, pelo presidente Petro Poroshenko; na Alemanha, os partidos da direita tradicional estão perdendo representação nos Estados para a extrema-direita.
Para se ter uma noção, a extrema-direita holandesa, no sentido de atacar a organização dos trabalhadores, assimila com o discurso da extrema direita bolsonarista, aquele discurso de caça às bruxas contra a esquerda. Nas declarações de Baudet, posiciona-se contrário à histeria das alterações climáticas, a idolatria do sustentável e o doutrinamento da esquerda. Apela, ainda, para a demagogia própria da extrema-direita que culpa os imigrantes pela política de miséria imposta pelo governo de direita. Nesse sentido, chama a atenção dos nacionais as declarações de Baudet voltadas ao magnífico povo de que somos parte, que tem centenas de milhares de anos de história, ao qual falharam os governantes – governantes da direita tradicional que prepararam o campo econômico precário, porém favorável a ascensão da extrema-direita.
A ascensão da extrema-direita ao Senado holandês expressa, em um sentido mais geral, a crise do sistema capitalista que se orienta na política de, pela força, através da extrema-direita, impor a superexploração do trabalhador, a retirada de direitos trabalhistas, barrar os imigrantes dos países onde o imperialismo saqueou suas riquezas, impulsionando a emigração pela precarização das condições de vida. Assim, o crescimento da extrema-direita está relacionado com a crise da economia capitalista que faz com que a burguesia desloque da direita tradicional para a extrema-direita, setor capaz de dar garantias à força a falência dos capitalistas. No entanto, à medida que a esquerda não reage em uma política contundente contra a direita e a extrema-direita de conjunto, cada vez mais a extrema-direita domina o cenário político, conforme podemos acompanhar nos países europeus e nos países da América Latina, como no próprio Brasil.