No mesmo dia da chacina na maior favela de São Paulo, Paraisópolis, em que a ação repressiva da Polícia Militar, resultou na morte de nove jovens, com idades entre 14 e 23 anos, a PM também agiu e matou na segunda maior comunidade, a de Heliópolis.
A comunidade conta com mais de 40 mil habitantes e o pretexto para a ação criminosa da PM também foi a realização de um baile funk e a vítima foi Alberto Gois, de 38 anos, morto “em decorrência de choque hemorrágico, segundo laudo do IML, após ele ser atingido de frente por dois tiros, um no peito e outro na barriga“.
Na versão apresentada pela PM e registrada em um Boletim de Ocorrência, o homem foi baleado por na viela de São Jorge, após correr em direção a eles com uma arma em punho e atirar. Segundo os policiais relataram, o homem estava “provavelmente fugindo da ação de dispersão que era feita do outro lado da comunidade [por outra equipe da polícia]” durante o baile funk. Uma declaração que reafirma o modus operandi da PM (que foi negado no caso de Paraisópolis, onde afirmaram que adentraram a favela em perseguição a supostos motoqueiros em fuga).
Já inúmeros moradores de Heliópolis, na Zona da Capital paulista, desmascaram a versão da PM sobre o que ocorreu na madrugada do último domingo (1º) durante um baile funk. Segundo eles policiais fuzilaram a vítima indefesa e limparam a cena do crime para não serem incriminados.
Para justificar essa versão fantasiosa e a lavagem da cena do crime, policiais afirmaram no BO que “o local [dos disparos] foi totalmente prejudicado em razão de um cano furado provavelmente por um disparo, que provocou um grande vazamento de água que arrastou vestígios”.
Segundo os moradores relataram o homem foi levado para um beco por PMs, dentro de uma viatura, sem troca de tiros. Um dos moradores contou que, após retirar o homem de dentro do carro, a polícia efetuou os tiros no mesmo instante em que era disparada bomba de efeito moral, tentando se aproveitar do barulho para encobrir a execução.
Os moradores contaram também que não havia cano foi estourado na viela e que foram os policiais que alteraram a cena do crime limpando o local.
Um morador contou que “tiraram o menino da viatura, levaram para o beco e atiraram no menino. Depois lavaram o beco antes da perícia chegar”.
Na versão contada pela PM, Alberto Gois foi socorrido com vida após a suposta troca de tiros com policiais e levado para o Pronto Socorro do Hospital Heliópolis. No entanto, uma moradora da comunidade, relatou à TV Globo que o corpo ficou no mesmo local até a manhã de domingo, não tendo sido levado ao hospital com vida. Segundo ela, “ia dar sete horas da manhã e o corpo do menino jogado para dentro do beco. E eles [policias] estavam fumando cigarro, conversando, sorrindo. Não estavam sentindo nenhuma dor pela morte do jovem”.
Outra moradora afirmou que viu “quando realizaram a execução, eles tiraram a vítima de dentro da viatura ainda com vida e levaram pro beco, efetuaram um disparo de bomba de efeito moral e em seguida efetuaram um disparo com arma de fogo, que era pra ninguém ouvir o barulho do tiro e não ter como provar. Eles lavaram o beco antes da perícia chegar”.
Mostrando que a versão contada em Paraisópolis, já estava “ensaiada” e combinada pelos policiais para operações desse tipo, também em Heliópolis, os policiais militares afirmaram no BO que no domingo, antes de o homem ser baleado e morto, entraram em Heliópolis ao perseguir um rapaz em uma motocicleta que tentou fugir para o interior da comunidade. Essa informação também consta do boletim de ocorrência.