Em seu mais recente artigo publicado na golpista Folha de S.Paulo, o ex-candidato à presidência da República, Fernando Haddad, em crítica “a ausência de formuladores de política na atual equipe econômica”, não escreve nada de novo, mas repete tudo de velho, a fim de se mostrar para a burguesia como confiável diante uma eventual candidatura presidencial futura e/ou apontar que ele, assim como todo um setor da direita do PT, não tem o propósito de “entornar o caldo” diante do fracasso absoluto do governo golpista e ilegítimo de Bolsonaro.
Em primeiro lugar, aponta que todos os governos, desde o segundo de FHC, trataram de seguir o tripé macroeconômico estabelecido com o Fundo Monetário Internacional, em 1998, diante da quebra do Plano Real (isso Haddad não cita), em troca de um empréstimo de US$ 41,5 bilhões.
Cada um ao seu estilo, FHC, Lula, Dilma e Temer seguiram cumprindo o acordo. Um parêntese para o segundo governo de Dilma que “promoveu o desacerto da agenda adotada para estimular a economia.” Acrescenta, com uma critica superficial, a conduta do PSDB, admitida pelo seu presidente, Tarso Jereissati, sobre os erros cometidos pelo PSDB em se opor, ‘sobretudo na economia, só para ser contra o PT’ e, finalmente critica o que chama de “excessos da Lava-Jato”, que poderia ter combatido a corrupção e a imoralidade sem destruir cadeias produtivas inteiras.
Segundo Haddad, diante desses supostos erros (Dilma, PSDB e Lava-Jato), “veio o golpe parlamentar de 2016, hoje admitido por Michel Temer, Rodrigo Maia e Aluísio Nunes”. É patente a simplificação do golpe, pelo ex-candidato. Seria como se uma conjunção de fatores (erros) tivessem desembocado no golpe, na deposição da ex-presidenta, na perseguição ao PT, ao seu principal dirigente, na sua prisão e na fraude eleitoral de 2018.
Não vamos entrar nos meandros do golpe de Estado no Brasil, vale sublinhar, no entanto, a preparação do golpe pelo imperialismo, o papel de linha de frente do PSDB e a Lava-Jato, como a operação jurídico-policial criminosa, que justificou com fraude, manipulação e mentiras todo o processo golpista.
Finalmente, depois de toda crítica amigável, Haddad dá a receita que falta no governo fascista de Bolsonaro, não sem antes fazer um paralelo entre o período correspondente do atual governo com as iniciativas no mesmo espaço de tempo, em 2003, do primeiro governo Lula.
“Hoje, temos um governo desastroso em várias áreas – política externa, meio-ambiente, ciência e tecnologia, educação etc.-, que pode comprometer a recuperação e nos condenar, por anos, a um desempenho econômico medíocre.” Haveria alguma área em que o governo não seria desastroso para o povo trabalhador, para a imensa maioria da população?
Algumas considerações sobre a conclusão do artigo do professor. Em primeiro lugar, nunca é demais resgatar sempre o “velho Lula”, colocar-se aparentemente à esquerda, para defender uma política direitista. Independentemente das críticas que possamos fazer aos governos do PT, e temos muitas, o problema aqui é de outra ordem. O imperialismo, a burguesia, derrubou o governo do PT porque sequer a política limitada, com uma porcão de nacionalismo, de um mínimo desenvolvimento nacional é mais aceita. Aliás, já não era antes, mas apenas “engolida”. Com o avançar da crise, principalmente depois de 2008, a ordem passou a ser outra: o golpe, a destruição dos regimes políticos de tipo democratizante. Na atual etapa, podemos ter certeza de pelo menos uma coisa, a roda não vai girar para traz, pelo contrário. O pequeno crescimento alcançado pelos governos nacionalistas na primeira década do século ficou no passado.
Mas se Haddad não quer nem o passado, o que quer então? Com certeza não é o Fora Bolsonaro ou pelo menos o fim do governo pela mobilização das massas. A desagregação do governo é muito profunda. A burguesia sabe disso. Operar uma manobra para tirar Bolsonaro já é admitido nos altos círculos golpistas. Independentemente se vai ser com Bolsonaro ou sem Bolsonaro, o que Haddad advoga é que a situação do jeito que está “pode comprometer a recuperação e nos condenar, por anos, a um desempenho econômico medíocre”.
Considerando que a política de “crescimento” do imperialismo reside numa expropriação sem limites do conjunto da população e da destruição do próprio País e que entre “os desastres” do governo Bolsonaro está omitido “a economia”, Haddad sinaliza para os golpistas que é não apenas confiável, mas um defensor do “crescimento econômico” sobre a base do que o golpe impôs ao País.