A substituição da candidatura de Lula pela de Fernando Haddad nas eleições desse ano foi um completo desastre. A direita obteve uma vitória eleitoral (o que não ocorreria se Lula estivesse no páreo), mesmo que fraudulenta, e está numa ofensiva contra os trabalhadores. Toda a crescente luta em torno da liberdade de Lula foi amortecida em meio à festa eleitoral organizada por setores direitistas da esquerda nacional.
Mesmo derrotado, Haddad continua sendo apontado como uma “nova liderança”, isto é, como uma figura que teria o papel de liderar a esquerda latino-americana na resistência contra a ofensiva da direita. Obviamente, nada indica que Haddad pode desempenhar tal papel.
Fernando Haddad obteve mais de 40 milhões de votos na última eleição. No entanto, praticamente nenhum desses votos de fato lhe pertence – são votos do Partido dos Trabalhadores e do ex-presidente Lula. Ou seja, outro candidato apoiado por Lula e pelo PT não teria dificuldades em atingir os índices de Haddad.
O que está por trás da campanha para tornar Haddad um “novo líder” são os interesses da burguesia em enterrar a liderança de Lula e todos aqueles vinculados ao movimento operário. A própria campanha de Haddad mostrou isso: sua participação nas eleições significou a aproximação com setores como Geraldo Alckmin e Marina Silva, o ataque às mulheres por meio de uma política anti-abortista, o abandono cretino de dirigentes históricos do PT e um fortalecimento das instituições que deram o golpe de Estado no Brasil, em especial a Polícia Federal.
Uma das manobras para tornar Haddad o “novo líder” das esquerdas consiste em derrubar a atual presidenta do PT, Gleisi Hoffman, que é ligada ao ex-presidente Lula, para que uma ala direitista comandada por Tarso Genro e Fernando Haddad tome de assalto um dos maiores partidos de esquerda do mundo. Até agora, sobretudo pela influência do próprio ex-presidente Lula, Gleisi Hoffman permanece na Presidência.
Recentemente, Haddad demonstrou que a ala direita do PT, da qual faz parte, ainda está interessada em derrubar Hoffman e transformar o PT em um partido absolutamente palatável para o regime golpista. Em entrevista ao jornal El País, Haddad atacou o governo venezuelano, alegando que este não seria democrático, e ainda criticou Gleisi Hoffmann por ter participado da posse de Nicolás Maduro.
Com frases pomposas e de conteúdo profundamente reacionário, Haddad declarou na entrevista: “Não sei o que levou Gleisi a Caracas. É preciso cuidar do gesto, mas também da comunicação do gesto”. Ou seja, para Haddad – assim como para Jair Bolsonaro – não há nenhum motivo real para que a presidenta de um partido de esquerda seja solidária com um país que está sendo sabotado de todas as maneiras pelo imperialismo.
A defesa da Venezuela é um dos aspectos mais importantes da política do Partido dos Trabalhadores, e que é devida à força da ala lulista do partido. Nesse sentido, a crítica à Gleisi Hoffmann é uma clara tentativa de pressionar a Direção do PT para adotar uma posição de completa submissão aos interesses da burguesia e do imperialismo.