O Conselho Supremo dos Povos Ameríndios e Bushinenge (ex-escravos que se libertaram e formaram comunidades na florestas, semelhante a quilombolas) da Guiana Francesa emitiu uma nota oficial na qual se posiciona em relação ao recente imbróglio entre o presidente francês, Emmanuel Macron e o brasileiro Bolsonaro sobre as queimadas na região amazônica. Segundo o comunicado, enquanto a imprensa do mundo todo foca nesse assunto, muitos se esquecem que as fronteiras entre Guiana, Brasil e Suriname são bem recentes, e que a floresta é habitada e cuidada por povos indígenas irmãos há milênios, sem fronteiras.
O Conselho puxou da memória uma declaração do então deputado Jair Bolsonaro, em abril de 1998, (“[…] a cavalaria brasileira foi muito incompetente. Competente, sim, foi a cavalaria norte-americana, que dizimou seus índios no passado.”) para acusar o agora presidente, como “personagem profundamente racista” e culpado de parte da responsabilidade, esclarecendo que os incêndios são o trabalho, na verdade, do capitalismo, pois na África o problema é semelhante: a floresta queima e os povos e todos os seres sofrem com essa destruição.
O comunicado inclui Macron como alvo de seus tacapes, denunciando que enquanto ele manifesta preocupação com a destruição da Amazônia brasileira ou boliviana, ao mesmo tempo entrega 360.000 hectares de floresta para empresas multinacionais de mineração na Guiana Francesa, ou seja, existe também uma Amazônia francesa, sendo que o extrativismo é um grande responsável, inclusive pelo fogo.
A entidade declara que se recusa a co-assinar a declaração da ministra francesa Annick Girardin, porque nela há uma falta de compromisso em reconhecer os direitos dos povos indígenas e seu papel na preservação da biodiversidade. O Conselho apoia a proposta de aumentar o financiamento da UE para o desenvolvimento da Amazônia, mas defende que a participação plena dos povos indígenas em sua gestão seja garantida. Inclusive, um eventual fundo internacional para a Amazônia, deve ser gerenciado diretamente na Amazônia pelos povos e comunidades indígenas.
De acordo com a publicação, quando o presidente da França, Emmanuel Macron, fala em “associar os povos indígenas” é preciso a participação plena dos povos indígenas em todas as decisões relativas à Guiana Francesa e à Amazônia, garantindo o fortalecimento do Conselho Supremo como instância decisória com meios incontestes de funcionamento.