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Boulos e Erundina candidatos

Há algo de podre no reino do Largo da Batata

O que o processo de escolha da chapa do PSOL para disputar a prefeitura de SP revela?

O PSOL realizou prévias para indicar seu candidato à Prefeitura de São Paulo nos últimos dias 18 e 19. O escolhido foi seu ex-candidato à presidência, Guilherme Boulos. A vitória do campeão das manifestações no Largo da Batata não foi, nem de longe, uma surpresa. Vejamos o porquê.

O resultado das prévias, que a imprensa burguesa nos deu a conhecer, foi o seguinte: participaram 2.420 (24,4%) dos 9.932 filiados; Boulos recebeu 1.474 votos (61%); a deputada federal Sâmia Bomfim, 779 (32%) e o deputado estadual, Carlos Giannazi, 155 (6,4%); 12 (0,5%) pessoas votaram nulo ou em branco. E este é o primeiro ponto para o qual eu gostaria de chamar a atenção dos leitores.

O PSOL realizou eleições internas, mas quem deu a notícia foram os jornais capitalistas – o G1 (portal d’O Globo), o UOL (portal da Folha de S.Paulo) e O Estado de S. Paulo. Note-se: não só deram a notícia do resultado. Muito antes disso, anunciaram com grande destaque que Boulos e Luiza Erundina (escolhida para ser sua vice na chapa) estavam na disputa. Manchetes de capa, fotos e vários parágrafos foram dedicados a explicar a importância da sua candidatura muito antes das prévias acontecerem (Mônica Bergamo, da Folha, foi pioneira, em novembro do ano passado).

Não ocorreram prévias em 2016, quando Erundina foi escolhida para representar o PSOL no pleito municipal. Na ocasião, apenas 21 eleitores tomaram a decisão pelo partido, isto é, os membros do seu Diretório Municipal, cerca de um mês depois que Erundina aderiu à legenda. Ela havia acabado de sair do PSB, partido pelo qual foi eleita deputada federal quatro vezes seguidas, desde 1998, e entrado no PSOL anunciando aos quatro ventos que queria mesmo era construir outro partido, o RAIZ.

Quando Boulos foi indicado candidato à Presidência em março de 2018, cinco dias depois de ter se filiado ao PSOL, também não houve prévias. Ao invés delas, uma Conferência Eleitoral Nacional de 126 eleitores decidiu, por 69% dos votos, quem seria o candidato. Isso se deu não sem o protesto de militantes do PSOL “das origens”, como Plínio de Arruda Sampaio Jr., o “Plininho”, que disse à época que “a candidatura de Boulos nasce com um déficit de legitimidade”. E mais: “Tenho muita dificuldade de ser Boulos, porque para ser Boulos precisaria que ele tivesse passado pelas instâncias reais do partido. O Boulos é um ser estranho ao partido”. Isso dito, claro, em defesa da política tradicional do PSOL, “contra o lulismo, com Lula ou com Boulos”.

Se aceitássemos as prévias do PSOL pelo seu valor de face, teríamos que acreditar que de lá para cá, tudo mudou. Ao anunciar a inscrição de sua chapa em março (cinco meses depois que a imprensa burguesa havia começado a fazer campanha pelo seu nome), Boulos declarou: “a base do PSOL irá decidir“. Quais teriam sido os critérios então? Os filiados do PSOL teriam votado no que consideram o “melhor candidato”? No “mais conhecido”? No mais “viável”? No maior “puxador de votos”? No que já acumulou um “capital eleitoral”? Analisemos.

Se o critério fosse a votação que os pré-candidatos obtiveram em eleições anteriores, Boulos talvez não fosse a melhor escolha. O campeão do Largo da Batata teve cerca de 77 mil votos na capital paulista em 2018. Já Sâmia Bomfim foi a 8ª deputada federal mais votada no Estado, com 250 mil votos, dos quais 130 mil só na capital. Carlos Giannazi foi o 3º deputado estadual mais bem votado na capital, onde teve 124 mil dos seus cerca de 219 mil votos, eleito para o seu 4º mandato na ALESP. Aparentemente, votação não foi o que pesou na escolha de Boulos. 

O critério adotado nas prévias deve ter sido, então, o da “visibilidade” que Boulos adquiriu após concorrer no 1º turno da disputa presidencial. Vá lá. É apenas outra demonstração de que o PSOL não tem voz própria, só “fala” quando a imprensa capitalista lhe dá uma canja. Além do mais, é assim que funcionam as campanhas eleitorais no Brasil. Torna-se conhecido do grande público quem a “grande imprensa” – capitalista obviamente – escolher. E Boulos foi o escolhido. Quem convenceu a “base do PSOL” a votar em Boulos foi a imprensa capitalista. Mais precisamente, um velho instrumento de manipulação eleitoral: as pesquisas de opinião.

Dois dias antes das prévias, a revista Época, da Globo, divulgou uma pesquisa do Instituto Ideia Big Data afirmando que Guilherme Boulos ficaria em 3º lugar nas eleições, com 11% das intenções de voto, à frente de Marta Suplicy. Ao noticiar que a pesquisa foi tirada do ar em seguida, a revista Fórum lamentou o ocorrido porque o nome de Boulos era “o mais competitivo da esquerda na disputa pela Prefeitura de São Paulo”. Para dar alguma chance à adversária de Boulos nas prévias, a pesquisa dizia que se Sâmia Bomfim fosse candidata, ficaria em 4º lugar, com 4% dos votos. Um mistério: o Instituto informou que a pesquisa não deveria ter sido divulgada pois não tinha registro no TSE e que era apenas para “consumo interno”. Quem devia ter consumido? E por que foi divulgada?

Quando saiu o resultado das eleições internas, Boulos comemorou no Facebook e no Twitter: “AGORA É OFICIAL! Eu e Luiza Erundina somos pré-candidatos do PSOL à Prefeitura de SP. Após o fim da apuração tivemos 61% dos votos. Agradeço à militância e cumprimento Sâmia Bomfim e Carlos Giannazi pelo processo democrático. O partido sai mais forte e unido. Vamos vencer em São Paulo!”. Por tudo o que vimos, a candidatura já estava decidida de antemão, só precisava do aval das prévias, de uma encenação de democracia interna. Quem escolheu Boulos não foi a militância à qual ele agradeceu. Se “agora é oficial” é porque antes era oficioso e essa decisão não foi tomada “pelas bases”, mas por cima. Sim, meus amigos, há muitos motivos para acreditar que há algo de podre no reino do Largo da Batata.

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