Dia 15 de janeiro de 1919 foi assassinada Rosa Luxemburgo. Não há o que comemorar. Se não tivessem lhe tirado a vida aos 48 anos de idade, poderia ter contribuído muito mais para a continuação efetiva do marxismo em sua evolução teórica e prática.
Neste aniversário de 100 anos de sua morte procuramos fazer um pequeno relato de sua vida e de sua importância histórica.
Todos os grandes revolucionários marxistas sofreram o fado inevitável de serem caluniados pelos exploradores e seus representantes maiores e menores. A tentativa de anular politicamente diante das massas e dos setores mais esclarecidos sempre foi utilizado como arma para desnaturar sua obra.
A falsificação da obra de Marx, Engels, Lenin, Trotski por pretensos discípulos, jornalistas “imparciais” e acadêmicos são casos de um modo de deformação que somente existiu na história das religiões. Rosa Luxemburgo não é exceção.
É antes um caso especial. Já em 1935, momento em que a contrarrevolução stalinista empesteava o movimento operário mundial, as frentes populares erguiam-se, ao lado do fascismo em ascenso, como um obstáculo decisivo ao ímpeto revolucionário das massas, o centrismo da esquerda pequeno-burguesa servia como um complemento necessário para conter a evolução das alas revolucionarias ou que evoluíam no sentido da revolução no interior das organizações operárias. Trotski apresentava uma análise deste fenômeno:
“Tanto na França como em outros países, realiza-se, atualmente, uma tentativa para criar um suposto luxemburguismo que serva de trincheira aos centristas de esquerda contra os bolcheviques-leninistas…. Várias vezes tomamos a defesa de Rosa Luxemburgo contra os grosseiros e imbecís ataques de Stalin e sua burocracia. Continuaremos a faze-lo. Fazendo-o não obedeceremos a quaisquer considerações sentimentais, mas aos preceitos da critica histórica-materialista. Nossa defesa de Rosa Luxemburgo não é, entretanto absoluta. Os aspectos débeis de suas teorias foram colocados a nu teórica e praticamente. As pessoas do SAP e dos elementos que lhes são aparentados (…) só se servem dos lados fracos e das carências que, em Rosa Luxemburgo não eram , de modo algum, preponderantes. Generalizam e exageram essas fraquezas ao infinito e constroem sobre isso um sistema absurdo. O paradoxo está no fato de que até os próprios stalinistas, em sua nova reviravolta, aproximam-se teoricamente dos lados negativos e desfigurados do luxemburguismo, sem falar dos centristas tradicionais ou dos centristas de esquerda e do campo da social-democracia” (in : Trotski, Leon, Rosa Luxemburgo e a IV Internacional, 1935.)
Nascida em 5 de março de 1871 na pequena cidade polonesa de Zmasc, foi a quinta filha de uma família judia. Iniciou sua militância no movimento operário em Varsóvia, onde frequentou o liceu para moças e antes dos dezoito anos teve que fugir por conta da perseguição política, refugiando-se na Suiça.
Em Zurique estudou Ciências Natuaris, Matemática, Direito e Economia Política, e aos 22 anos fundou a Social Democracia do Reino da Polônia (SDKP), em conjunto com Leo Jogiches, Julian Marchlewski e Adolf Warski. Em 1897 defende doutorado sobre desenvolvimento industrial da Polônia e um ano depois muda-se para Berlim, onde passa a realizar militância na Social Democracia Alemã (SPD).
Ganhou projeção neste meio marxista alemão em 1899, com a publicação de Reforma social ou revolução?.
Em 1906 viajou clandestinamente para Varsóvia a fim de colaborar com a revolução russa iniciada um ano antes, e foi detida junto com Jogiches, passando quatro meses na prisão. Em sua volta à Berlim, entre 1907 e 1914 foi professora da escola de quadros do partido socialdemocrata alemão, sendo deste período a elaboração de obras como A acumulação do capital (1913) e Introdução à economia política (1925). Juntamente com outros companheiros de partido, como Clara Zetkin e Karl Liebknecht, articula em 1914 o Grupo Internacional em protesto à aprovação de créditos de guerra por parte da socialdemocracia, convertida aos esforços militares e nacionalistas do período.
Em 1915, após o SPD apoiar a participação alemã na Primeira Guerra Mundial, Luxemburgo fundou, ao lado de Karl Liebknecht, a Liga Espartaquista. Em 1° de janeiro de 1919, a Liga transformou-se no KPD. Em novembro de 1918, durante a Revolução Espartaquista, ela fundou o jornal Die Rote Fahne (A Bandeira Vermelha), para dar suporte aos ideais da Liga.
Luxemburgo considerou o levante espartaquista de janeiro de 1919 em Berlim como um grande erro, apesar de apoia-lo.
Acusada de agitação antimilitarista, Luxemburgo ficou presa durante um ano entre 1915 e 1916 e por mais alguns meses logo em seguida. Na prisão escreveu A crise da socialdemocracia (1916) e A Revolução Russa. Foi libertada em 8 de novembro de 1918, no início da revolução alemã.
Na virada de 1918 para 1919 participa da fundação do Partido Comunista Alemão (KPD) e em janeiro deste ano é presa junto com Karl Liebknecht no que foi conhecido como a “insurreição de janeiro”. Ambos são assassinados em 15 de janeiro de 1919 por tropas do governo. Rosa Luxemburgo tinha 48 anos.
Sua obra teórica pode ser dividida em dois períodos: o primeiro que vai de 1891 a 1914, que tem como fio condutor a criação, o apogeu e o desmoronamento da Segunda Internacional, e um segundo que vai de 1914 a 1919 e que foca-se inicialmente na crítica à Primeira Guerra e depois na análise das revoluções russa e alemã.
Rosa Luxemburgo foi uma das grandes personalidades criativas da vanguarda da classe operária que se formou entre os séculos XIX e XX e que através da sua luta, superaram com êxito a traição dos velhos líderes da II internacional abrindo caminho não apenas para a reconstrução como para o alargamento e o aprofundamento da luta da classe operária através da Revolução Russa e da III Internacional. Os fundadores da IV Internacional eram conscientes da importância da Obra de Rosa Luxemburgo diante dos desafios que se apresentam à vanguarda operária neste momento da história da humanidade e da importância do resgate dessa obra verdadeiramente revolucionária.