Na última semana, o deputado federal João Campos (PSB-PE), em entrevista ao jornal Metrópoles, declarou que “essa guinada que o Brasil deu, com viés conservador à direita e aos extremos tem destruído o direito das pessoas”. A frase, no entanto, entra em total contradição com a trajetória do próprio deputado.
O que seria exatamente a “guinada à direita” a que João Campos refere? Podemos, por um lado, considerar que a guinada diz respeito a um deslocamento geral das massas para a direita. Isso, no entanto, é completamente falso. Na medida em que os ataques da política neoliberal se aprofundam, os trabalhadores vêm assumindo uma postura cada vez mais radicalizada. E a prova dessa tendência dos trabalhadores a romperem com o regime político é o fato de que a burguesia só tem conseguido se sustentar por processos cada vez mais abertamente golpistas e antidemocráticos.
Sendo assim, podemos considerar, portanto, que a “guinada à direita” seja uma referência de João Campos às investidas da burguesia contra o povo, de maneira a criar condições políticas para implementar a política neoliberal. Ora, mas se assim for, João Campos está envolvido até a medula com esses processos.
Desde 2012, a burguesia começou a preparar o terreno para retomar o controle do Poder Executivo, que era um entrave para que as “reformas” da direita fossem implementadas. O plano original consistia em desgastar o governo de Dilma Rousseff o suficiente para derrotá-lo nas eleições de 2014, utilizando, para isso, diversos expedientes, como a campanha do “Não vai ter Copa”. Chegadas as eleições, a imprensa burguesa impulsionou como pôde a candidatura de Aécio Neves (PSDB) e apoiou, de medida menos intensa, a candidatura de Eduardo Campos, do PSB. Até momentos antes, o PSB apoiava o governo Dilma, sendo sua ruptura mais uma sabotagem contra o PT. Com a morte de Eduardo Campos, o PSB escolheu Marina Silva para ser a candidata presidencial, que foi apoiada por João Campos. Por fim, no segundo turno, João Campos apoiou a candidatura de Aécio Neves — isto é, o “plano A” do imperialismo.
Após a derrota de Aécio Neves, a direita passou ao “plano B”: a derrubada do governo Dilma. O PSB apoiou o processo e, naquele momento, João Campos não criticou, de maneira alguma, a “guinada à direita”. Pelo contrário: todas as figuras que são ligadas a ele, como Paulo Câmara (PSB), governador de Pernambuco, apoiaram o golpe.
Diante desse histórico, só podemos concluir que João Campos fala em “guinada à direita” para omitir a participação sua e de seu partido no golpe de Estado que depôs Dilma Rousseff e que pavimentou o caminho para que a extrema-direita chegasse ao poder. Pré-candidato à prefeitura do Recife para as eleições de 2020, João Campos, muito mais do que uma análise séria da situação política, procura apenas acenar para a esquerda com a proposta de uma “frente ampla”. Uma frente entre a esquerda e os golpistas, que somente poderá levar os trabalhadores à derrota.