Depois do anúncio na sexta-feira (02) pelo governo dos Estados Unidos de que seriam impostas tarifas de 10% sobre 300 bilhões de dólares em produtos chineses e que essa taxação poderá chegar a 25%, acentuou-se a crise entre as duas principais economias do mundo.
Em seguida à declaração do governo dos EUA, o Yuan, a moeda chinesa, sofreu uma forte queda atingindo o seu menor patamar frente ao dólar desde a crise de 2008. Por sua vez, a desvalorização do Yuan levou o secretário do Departamento do Tesouro dos EUA, Steven Mnuchin, a acusar a China de ser “manipulador cambial” e que essa atitude elevava a crise comercial para além da disputa de tarifas.
O governo chinês não tardou em contra-atacar. Anunciou que suas empresas pararam de comprar produtos chineses e o Banco do Povo da China, em comunicado em seu site, “declarou: “[A China] não usa e não usará a taxa cambial como uma ferramenta para lidar com as disputas comerciais” e que a “A China avisou os Estados Unidos para segurarem as rédeas antes do precipício, e para estarem cientes de seus erros, voltando atrás em sua trajetória errada”.
As medidas norte-americanas contra a China, aliada a diminuição da taxa de juros no EUA são claro sintoma de que a crise mundial de 2008 não foi superado no principal centro do capitalismo mundial e que o relativo crescimento dos EUA no último período foi devido a questões conjunturais, daí a necessidade de conter o crescimento fora do país para estimular sua própria economia numa tentativa de evitar a recessão interna.
A política dos EUA para enfrentar sua própria crise irá aprofundar o protecionismo e a situação de instabilidade financeira global diante de uma situação econômica de muito maior fragilidade, se comparado ao período anterior à crise de 2008. Nesse quadro, uma nova crise das dimensões da anterior se dará em condições muito mais débeis de contenção por parte dos países imperialistas.
O corte das importações pelos EUA acentuará a desaceleração da economia chinesa, uma das engrenagens fundamentais da economia mundial, o que pode significar um rastilho de pólvora que pode incendiar os países atrasados, que já vivem em uma situação de baixo ou mesmo nenhum crescimento, como é o caso do Brasil que está numa situação de virtual depressão econômica.
Por outro lado, de um ponto de vista da situação da economia mundial, a tentativa de conter a crise econômica de 2008 acentuou, como admitem os próprios analistas do mercado financeiro, a especulação financeira mundial, justamente porque os países imperialistas e o sistema financeiro mundial injetaram mais recursos nas economias sem uma contrapartida no crescimento da economia real fazendo com que crescesse mais ainda a bolha financeira mundial.
É nesse quadro que soa como uma verdadeira advertência do banco central chinês ao governo norte-americano sobre “segurar as rédeas antes do precipício”. Não porque a disputa comercial seja o que está determinando a crise. É justamente o contrário. A crise mundial capitalista que está levando ao acirramento da disputa entre os Estados Unidos e a China. Ocorre que, numa situação de grande instabilidade financeira, a guerra comercial pode precipitar um novo furacão na economia mundial em proporções muito superiores à crise de 2008.