Ao completar um mês da rebelião contra a ditadura colombiana chefiada por Iván Duque, quatro pessoas foram mortas na cidade de Cali em 28 de maio. Como temos visto nesse último mês, as manifestações são predominantemente pacíficas.
Pacíficas apenas do lado do povo colombiano, porque as forças de segurança do fascista Duque têm matado e usado de brutalidade desmedida. Além de matar, o governo federal mente, dizendo que até agora ocorreram 17 mortes de civis, contrariando a contagem de dezenas de manifestantes mortos segundo grupos de direitos humanos. Entre os policiais, foram dois mortos.
Essa revolta teve como motivo inicial e manifesto o repúdio às reformas tributária e de saúde do governo Duque, o que levou ao arquivamento delas e à demissão do então ministro das Finanças Alberto Carrasquilla.
Todavia, a insatisfação não é apenas contra esta ou aquela medida, mas contra a política neoliberal em seu conjunto. É isso que está acontecendo no Chile também, quando a revolta popular que já havia se iniciado antes da pandemia acabou ultrapassando totalmente as demandas iniciais, chegando ao ponto de levar a um grande vitória da esquerda nas eleições para a Assembleia Constituinte.
Podemos dizer que a mesma tendência existe no Brasil. Os atos de 29 de maio no país todo revelaram isso também, demonstrando que temos uma situação potencialmente revolucionária em toda a América do Sul. No caso da Colômbia e Chile essa situação está em uma etapa mais avançada, apesar de as massas estarem se rebelando de forma espontânea, independentemente das direções da esquerda.
Situação revolucionária não significa que a revolução vai acontecer agora de forma automática, como se não fosse necessária uma direção. Significa que a crise do regime político desses países é tão grande que ele começa a se esfacelar. A burguesia e o imperialismo percebem, com isso, que as medidas tradicionais contra os trabalhadores já não adiantam quase nada. Por isso as medidas desesperadas e violentas por parte dos governos burgueses chilenos e colombianos.
Além disso, o atual estágio mais avançado da crise do regime capitalista não permite mais que a burguesia apoie governos de esquerda que busquem conter a insatisfação popular, como foi na primeira década deste século no Brasil, Bolívia, Equador, Argentina, etc…
A burguesia da América Latina tende cada vez mais a apoiar a extrema-direita. Foi assim na Alemanha de Hitler e assim está ocorrendo em plena luz do dia atualmente. Apenas uma esquerda cega poderia sonhar em apoiar alguma direita “civilizada” como estratégia contra o fascismo.
Em primeiro lugar não existe direita “civilizada” e, como já dissemos, a situação atual não permite qualquer aliança desse tipo. O apoio cada vez maior da burguesia à extrema-direita de Fujimori no Peru, Duque na Colômbia e Bolsonaro no Brasil são a prova disso.
A burguesia sabe que a questão chave do momento é o poder e, para mantê-lo, usa os métodos que forem necessários para isso, por mais criminosos que sejam.
A esquerda devia ter noção exata dessa realidade e também usar todos os métodos necessários para varrer esses governos de direita da América do Sul, como estão fazendo as massas colombianas. Os métodos que o povo usa para esse fim nunca são criminosos porque são sempre legítimos.
No Brasil, o que precisamos é avançar mais ainda na mobilização que revelou toda a força da classe trabalhadora em 29 de maio. Uma revolta popular como a colombiana ocorrendo no Brasil seria algo que ultrapassaria as fronteiras do país e até mesmo do continente, e é um dever de todo dirigente que se diz de esquerda ajudar a guiá-la antes que seja tarde demais e acabe atropelado pela situação cada vez mais explosiva.