Em matéria publicada no último dia 30 de julho pelo site Brasil de Fato, o mercado de tratores de esteira, amplamente utilizados para desmatamento, disparou em vendas no último semestre. Segundo dados da Associação Nacional de Veículos Automotores (Anfavea), entre os meses de janeiro e junho de 2020, 426 tratores de esteira foram comercializados no Brasil, superando em 105% as vendas no mesmo período no ano anterior, que teve um número de 208 tratores vendidos, sendo anunciados aos montes em sites de vendas como Mercado Livre, OLX e MF Rural, especializado em maquinário agrícola. Em parte dos anúncios e em conversas com comerciantes, estes sequer escondem a finalidade destrutiva de suas mercadorias, exaltando a força e potência das máquinas pesadas.
Esses tratores são indicados sobretudo para o ramo da construção civil, por conta de sua principal função ser a terraplanagem de terrenos, que consiste em retirar terra de uma área até que ela fique com uma superfície uniforme. Embora esse setor seja o maior comprador desse tipo de trator, existe uma contradição: ele está em queda desde o começo de 2020. Em estudo publicado pela Fundação Getulio Vargas (FGV), o Índice de Confiança da Construção (ICST) sofreu uma queda de 25,8 pontos até o mês de abril de 2020, chegando até mesmo a 65 pontos no mesmo mês, sendo o pior número da série histórica, iniciada em 2008.
Paralelamente à esta queda, além do aumento nas vendas de tratores de esteira, como mostrado no início da matéria, há também um aumento nos índices de desmatamento. Segundo o Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE), já são 13 meses seguidos de aumento do desmatamento no Brasil, comparado com o mesmo período no ano anterior. Apenas entre janeiro e abril deste ano, a destruição das florestas em reservas indígenas subiu 64%. Como pode-se constatar, a subida nas vendas de tratores é indissociável da alta nos índices de desflorestamento, que embora seja permitido por lei, em grande medida é realizado ilegalmente. Num cenário de crise econômica e queda no comércio, a venda de tratores e outros equipamentos agrícolas segue contraditoriamente em alta junto à grilagem de terras.
Desde o mês de março de 2020, o governo Bolsonaro já publicou 195 atos no Diário Oficial da União, de acordo com pesquisa feita pelo jornal Folha de S. Paulo em parceria com o Instituto Talanoa, pouco tempo antes da polêmica e escatológica reunião ministerial ocorrida em 22 de abril, na qual o ministro do Meio-Ambiente, Ricardo salles, aconselhou o seu chefe e colegas ministros à aproveitarem a atenção da imprensa com a pandemia do coronavirus para alterar discretamente toda uma série de normas e leis e retirar direitos, visando assim favorecer os interesses dos seus patrões, os capitalistas, em detrimento dos trabalhadores e demais grupos oprimidos. E assim segue a total farsa que é a postura nacionalista de Bolsonaro, principalmente com relação à Amazônia.