Um estudo realizado pela Universidade Federal Rural do Rio de Janeiro revelou que o governo possa ter economizado, no mínimo, R$17,5 bilhões com as internações evitadas pelo isolamento social feito no Brasil. A economia dessa grande quantidade de dinheiro é comemorada pelo governo federal, mas antes de se “comemorar” é preciso entender o que realmente essa economia significa na vida do trabalhador.
Mais uma vez, o isolamento social ou a famosa quarentena é usado de forma demagógica para nos dar a falsa idéia de que o governo não poupou esforços para proteger a população, “sacrificando” a economia para salvar vidas. Em primeiro lugar, é preciso lembrar qual parcela da população brasileira fez parte dessa economia de R$17,5 bilhões, já que o isolamento social atingiu apenas uma parte dos trabalhadores, não todos. Enquanto comércios foram fechados, dando uma falsa impressão de que tudo estava parado, outros setores continuaram as suas atividades como se não houvesse uma pandemia, como a construção civil, as indústrias, os frigoríficos, além dos serviços considerados essenciais e também os trabalhadores autônomos e informais, que não tiveram alternativa a não ser se exporem ao risco, já que o auxílio emergencial não chegou a todos e não consegue também suprir todas as necessidades da população já que seu valor é muito abaixo da realidade daqueles que precisam.
Ao esvaziar as ruas por conta do comércio, houve a falsa impressão de que todos estavam protegidos dentro de suas casas, mas além de ter a opção ou não de ficar em casa, precisamos refletir sobre quais condições os trabalhadores estavam cumprindo o isolamento social. Como garantir que ninguém se infectasse com o vírus se uma grande parte dos trabalhadores não tem condições mínimas de moradia, não tem acesso à luz, ao saneamento básico, além dos recorrentes casos em que populações ficaram sem água em plena pandemia, ou seja, como garantir que todos estavam sendo salvos se nem o mínimo para sobreviver como moradia e higiene estavam sendo garantidos a essas pessoas?
O que podemos concluir é que o isolamento social beneficiou efetivamente uma parcela mínima dos trabalhadores, que conseguiram ficar em casa e tinham as condições necessárias para se protegerem diante disso, mas o que vemos agora, quando o país registra uma média diária de mais de mil mortos é que nem mesmo esses trabalhadores conseguem mais praticar qualquer isolamento, pois a abertura econômica no país já é praticamente completa, ou seja, todos estão expostos ao vírus e ao risco de se contaminarem e até mesmo morrerem. Outro fator que devemos nos atentar é que o governo já está economizando em Saúde mesmo sem considerarmos o isolamento social, pois nenhuma das promessas feitas para o combate à pandemia foi cumprida. Dos hospitais de campanha, poucos saíram do papel, e alguns já até mesmo foram desativados, sendo que a pandemia está longe de acabar. Dos 46 milhões de testes prometidos, apenas 2 milhões foram entregues, além da falta de respiradores, equipamentos de segurança para profissionais da saúde, e um problema ainda mais recente, a falta de sedativos e medicamentos necessários nas UTIs para entubação de pacientes. O governo já economiza em Saúde desde o início da pandemia, e não é salvando vidas, mas dificultando que vidas sejam salvas, por isso chegamos tão cedo a uma marca tão impressionante de mais de 90 mil mortos.
Além de toda essa problemática, é preciso se atentar para onde o dinheiro dessa economia está indo. Se existe dinheiro sendo economizado com os trabalhadores quem irá se beneficiar com isso? A resposta está na luta de classes, ou seja, quem se beneficia das mazelas do trabalhador é a classe burguesa. Enquanto o governo neoliberal de Jair Bolsonaro se vangloria por estar economizando dinheiro que deveria ser destinado ao trabalhador, entrega sem pestanejar trilhões de reais aos bancos e aos grandes capitalistas, e esse dinheiro “economizado” continuará beneficiando a burguesia e salvando da crise aqueles que a mesmo criaram. O Estado burguês e os governos de extrema direita servem para uma única classe dentro do capitalismo, e é por isso que a classe trabalhadora deve se organizar e combatê-los. A pandemia evidenciou ainda mais o que já estava claro, o governo Bolsonaro é um verdadeiro fantoche da burguesia e do imperialismo, uma verdadeira ameaça à vida dos trabalhadores.