Destaque na imprensa capitalista, a revisão de queda do PIB no 2º trimestre superará facilmente o recorde anterior, registrado no auge da crise que marcou a era Collor, no último trimestre de 1990, quando o PIB brasileiro sofreu uma retração de 4,7%. A situação atual, contudo, é dramaticamente pior.
A economia brasileira vem patinando desde o começo da década. Entre os “pibinhos” do começo do governo Dilma até a depressão atual no governo Bolsonaro, o PIB do Brasil começou os anos 10 em R$4,143 trilhões em 2011 para terminar o ano de 2019 em R$7,3 trilhões. O movimento parece indicar um crescimento de 76,2% porém, quando transportada para o dólar, a situação muda drasticamente.
Pareado com a moeda americana, o PIB brasileiro iniciou a década em US$2,616 trilhões para terminar 2019 em US$1,847 trilhão, retração, portanto, de 29,4%. Considerando a pressão inflacionária sobre o dólar, de 13,7% no acumulado do período, a economia brasileira não perdeu “apenas” US$769 bilhões mas US$1.127,39 trilhão. E isto, reforçando, seria apenas para manter o nível da atividade que vinha se desenvolvendo então, o que não seria o bastante por uma obviedade: a população cresceu.
Estimada em 210,14 milhões pelo IBGE no ano de 2019, a população brasileira tinha 197,5 milhões em 2011, o que significa um crescimento de 6,4% na força de trabalho nacional. O aumento na demanda por empregos exigiria, portanto, que a economia não apenas acompanhasse os 13,7% da inflação mas também os 6,4% do crescimento populacional, o que implica num PIB de US$3.141,81 trilhões. Não para que tivéssemos algum ganho, é bom lembrar, apenas para manter o que, na prática, seria uma estagnação. E isto não é tudo.
A própria opção por privatizar água do país é reflexo do desespero político que tomou conta da burguesia. Após a devastação pela primeira onda neoliberal que atingiu o país nos anos 1990 ter praticamente dizimado todo o patrimônio público, poucas opções sobraram para a especulação capitalista, sem a qual, o sistema desaba. Contudo, a crise ampla, do sistema capitalista de conjunto, global portanto, atingiu tamanha magnitude que toda a rapina provocada, na década de 1990 e também após o Golpe (com exemplo destacado do roubo da Previdência), é pouco. Mesmo controlando a maior parte do orçamento, a nível federal, estadual e municipal, sendo donos diretos das empresas públicas privatizadas, para o capitalismo sobreviver à crise atual, a burguesia precisa de mais.
Sendo a economia uma expressão concentrada da política, não é de todo estranho observar os paralelos entre o desenvolvimento da crise política no país e a escalada de atritos entre Bolsonaro e Paulo Guedes. Conforme os trilhões destinados à burguesia (sob o eufemismo de “resgatar a economia”) demonstram uma total ineficácia, crise histórica do capitalismo tende a acentuar a crise política ainda mais, com efeitos ainda mais duros sobre países atrasados, em especial o mais desenvolvido deles: o Brasil.