O Senado Federal, por meio de seu órgão IFI (Instituição Fiscal Independente), publicou neste mês de agosto seu Relatório de Acompanhamento Fiscal, que mostra que o governo Bolsonaro gastou apenas pouco mais da metade da verba anunciada para a concretização de medidas de combate a pandemia do novo coronavírus. Dos R$ 511,3 bilhões em créditos extraordinários prometidos para combater a doença, o governo federal liberou somente 54%, o que corresponde a R$ 277,9 bilhões.
Dentre as medidas adotadas pelo Planalto, o auxílio emergencial é a que ocupa maior parte do orçamento. De R$ 254,2 bilhões destinados a esse auxílio financeiro, o governo federal pagou 66%, equivalente a R$ 167,7 bilhões. Tal valor já distribuído poderia ser maior, todavia o problema mais recorrente durante a pandemia é a série de falhas e anomalias na distribuição do auxílio emergencial, sinal da má vontade do governo Bolsonaro em oferecer esse dinheiro, embora nos últimos dias Bolsonaro tenha passado a ver o auxílio emergencial com outros olhares, vendo nele potencial para elevar sua popularidade. Muitos trabalhadores se aglomerando em filas em agências da Caixa Econômica por todo o país, com uma grande parte não conseguindo receber o auxílio, seja por supostamente não se encaixarem nos requisitos necessários para receber o benefício, seja por ainda estarem com o pedido sob análise, já passados cerca de 5 meses de epidemia no Brasil. Contraditoriamente, ocorreu de personalidades milionárias como, por exemplo, o empresário bolsonarista Luciano Hang, vulgo Véio da Havan, conseguirem sem demora e sem restrições acesso ao benefício.
Se, por um lado, o “bondoso” Bolsonaro quer dar apenas R$ 600 para a população, por outro o dinheiro prometido para financiar a folha de pagamento das empresas foi de apenas 11,5 % de seu valor, correspondente a R$ 3,91 bilhões. Já a compensação prometida pelo Planalto aos trabalhadores formais que perderam o emprego ou o mantiveram porém com salário reduzido chega a apenas R$ 20 bilhões (39% do valor anunciado). Resumidamente, o trabalhador recebe o baixo auxílio de apenas 600 reais, é demitido pois o governo federal deixa de contribuir com o pagamento de seu salário, já que a burguesia não quer arcar com o prejuízo provocado pela crise, e não recebe nenhuma compensação financeira por causa de sua demissão ou corte no salário. No que diz respeito a ações propriamente na área da saúde, o governo Bolsonaro gastou apenas metade do valor anunciado. De R$ 46,8 bilhões, gastou-se 50,6%.
Apesar dos investimentos serem baixos para o tamanho do problema do covid-19 no Brasil, a burguesia já demonstra preocupação com o dito teto de gastos, a ser respeitado por seu lacaio presidente Bolsonaro. O pós-pandemia para os capitalistas deverá ser de compromisso da parte do Planalto com o ajuste fiscal. Diferentes levantamentos provocam a inquietação da classe burguesa, como a perda de receita líquida na primeira metade de 2020, sendo de 2,5% do PIB; aumento de gastos com a pandemia subindo em 40,3% acima da inflaçao no mesmo periodo; queda de 8,8% no PIB no segundo trimestre e aumento da divida bruta do governo para 85,5% do PIB, podendo chegar a 96,1% do mesmo ao fim do ano.
O suposto combate ao coronavírus prometido pela burguesia e a crença de que com a pandemia os capitalistas, num passe de mágica, se tornariam benevolentes não passaram de ilusão que até mesmo a esquerda pequeno-burguesa difundiu. O insuficiente dinheiro para combater a pandemia em grande medida chegou apenas na metade do valor prometido. São recorrentes os episódios de inação do governo federal e também dos governos estaduais e municipais, com ausência de testes para identificação do vírus, falta de fornecimento de equipamentos de proteção individual para a população no geral e para os profissionais da saúde. A verba que deveria ser passada para a classe trabalhadora por conta do fechamento do comércio, das demissões e dos cortes salariais não chega a uma imensa maioria, porém para os grandes capitalistas não há prejuízo.