Nessa segunda-feira (10) o golpista Michel Temer publicou, a mando do general Sérgio Etchegoyen, um decreto de intervenção federal no Estado de Roraima. Assume o poder como interventor o governador eleito Antônio Denarium (PSL). Trata-se de um grave endurecimento do regime golpista contra a população de meio milhão de pessoas que habitam no estado que faz fronteira com a Venezuela.
A governadora atualmente no poder, Suely Campos (PP), declarou que vinha sofrendo “pressões” que atingiam suas raízes familiares, o que tornava impossível a continuidade de seu governo. Seu filho, Guilherme Campos, havia sido preso no último dia 30, acusado de chefiar um esquema de desvio de verbas no sistema prisional. Assim como em outras unidades da Federação, os servidores do Estado de Roraima vinham sofrendo com o atraso no pagamento de salários desde setembro, o que levou a uma greve dos agentes penitenciários e da própria Polícia Militar, que se mobilizou como de hábito por meio das esposas dos agentes.
Trata-se evidentemente de um esquema articulado de intervenção. A iniciativa federal “acordada” com a governadora por meio da ação do Ministério Público contra seu filho teve iniciativa no Ministério Público Federal, pedida pela procuradora Raquel Dodge, e acompanhada de relatório da Agência Brasileira de Informação, a serviço do general Etchegoyen. Trata-se de uma negociação, evidentemente, em que a família Campos entregou os anéis para não perder os dedos.
A localização do Estado é estratégica para o imperialismo, por ser fronteiro à Venezuela. Como se sabe, há uma crescente tensão na região, e tanto o governo golpista de Michel Temer já promoveu manobras militares em conjunto com outras forças na Amazônia quanto o presidente eleito Jair Bolsonaro (PSL) já anunciara em sua campanha o apoio a uma possível deflagração de guerra contra o país vizinho, em apoio à política das petroleiras internacionais, que vêm achacando o governo nacionalista de Nicolás Maduro com um pesado boicote comercial. A crise provocada pelo boicote levou à emigração para o Brasil justamente por Roraima.
O fechamento da fronteira e o início de uma política de hostilidade para com a Venezuela é parte da plataforma do interventor Antônio Denarium – também conhecido como Tony Cash, já que adotou por alcunha o nome de seu banco Denarium, palavra latina que significa “centavos” e que está na base etimológica da própria palavra portuguesa “dinheiro”. A intervenção na verdade é um indicativo da forte fraude no processo eleitoral que levou à vitória de Tony Cash: não apenas os golpistas precisavam tomar o poder a qualquer custo, mas precisaram fazê-lo com urgência – o que levou à intervenção federal.
Essa seria a quarta intervenção ampla promovida pelos golpistas em unidades da federação desde a deposição de Dilma Rousseff do poder por meio de impeachment ilegal. O Espírito Santo e o Rio Grande do Norte tiveram intervenções militares pontuais, e o Estado do Rio de Janeiro está sob ocupação das Forças Armadas desde o Carnaval deste ano. Nenhuma das ações anteriores porém havia chegado ao ponto de depor o governador no poder como feito agora em Roraima, o que mostra o nível de aprofundamento do golpe e o grau de comprometimento das instituições com o imperialismo – sobretudo o Poder Judiciário e as forças de repressão.
Tony Cash tem mais poderes agora, como interventor, do que terá em 2019 como governador – pois não se submete à legislação estadual. O golpe em Roraima por isso promete ser um brutal ataque à população, com ataques aos servidores públicos em greve, o massacre da população carcerária, o fechamento das fronteiras, a mão-de-ferro sobre os venezuelanos. As intervenções federais nos Estados mostram que não há possibilidade de vitória sobre os golpistas no campo institucional. Somente com uma ampla mobilização popular do povo de Roraima contra esse golpe, será possível impedir a intensificação dos ataques da burguesia à classe trabalhadora.