[Atualizada em 22/10 às 09:37] A Bolívia realizou eleições gerais no último domingo (20). O atual presidente, Evo Morales, alcançou com 46,86% dos votos válidos, contra 36,72%% do segundo colocado, Carlos Mesa, com 95,3% dos votos apurados.
A contagem, realizada pelo Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ficou paralisada entre a noite de domingo e a de segunda-feira. Segundo informe do órgão, no último sábado, ela deverá terminar apenas na próxima quarta-feira (23), quatro dias antes do prazo legal.
Caso o resultado final seja um pouco mais apertado que o atual, Morales não obteria vantagem suficiente para conseguir maioria absoluta ou para ter dez pontos à frente de Mesa, o que lhe daria vitória em primeiro turno. Seria, assim, a primeira vez que ele teria que disputar um segundo turno com seu rival desde que foi eleito pela primeira vez. Nas eleições anteriores (2005, 2009 e 2014), ele venceu no primeiro turno, com votações que oscilaram entre 54% e 64%.
A paralisação da contagem tem sido utilizada pela direita para desestabilizar os comícios e tachar as eleições como manipuladas – uma vez que, se for levado realmente em conta o que pensa a população, Morales venceria facilmente no primeiro turno. É uma velha tática da direita: quando vai perder, está perdendo ou perdeu, afirma que foi uma fraude.
Mesa chamou os seu eleitorado coxinha a protestar em frente aos locais de apuração, para fazer pressão aos órgãos eleitorais. Por sua vez, a Organização dos Estados Americanos (OEA) também pressiona o TSE a explicar o porquê da demora, logicamente com o intuito de atacar o governo de Evo Morales, como o “Ministério das Colônias” vem fazendo com Nicolás Maduro, Miguel Díaz-Canel e Daniel Ortega, aliados do presidente boliviano.
Entretanto, os 4,7% restantes da apuração correspondem às áreas rurais, onde Morales tem grande apoio, tanto dos camponeses como dos indígenas, e é franco favorito. Além disso, faltam ser apurados os votos de bolivianos residentes no exterior, que, segundo pesquisas preliminares, também veem o atual mandatário como melhor candidato.
Portanto, ao contrário do que a direita propaga, é muito mais provável que os votos que faltam ser apurados sejam, em sua maioria, do candidato do Movimento ao Socialismo (MAS).
Outro dado que reforça essa tese é o fato de, em todas as pesquisas anteriores, Morales ter estado à frente de Mesa com cerca de 20 pontos de vantagem. Para completar, é fundamental lembrar que Carlos Mesa já foi presidente do país (2003-2005), mas isso, ao invés de lhe dar alguma popularidade, lhe tira. Isso porque ele adotou uma política neoliberal que levou o povo boliviano a se insurgir, no que ficou conhecido como a “Guerra do Gás”, um levante popular com características revolucionárias que obrigou Mesa a abdicar da presidência da República. Tal fato continua presente na memória dos bolivianos, o que praticamente impede qualquer tipo de vitória de Mesa ou de qualquer candidato neoliberal, ao menos sem a interferência do imperialismo.
É aí que entra o possível golpe. Assim como já ocorreu diversas vezes na história da América Latina, a direita pode paralisar a contagem para colocar seu candidato na frente, ou, pelo menos, grudado com o primeiro colocado. Isso já foi visto no Chile de Pinochet, no Rio de Janeiro em 1982 para que a ditadura vencesse Brizola, ou em Honduras em 2016, para que o regime golpista continuasse no poder.
As pesquisas eleitorais indicavam uma média por volta de 20% a 25% de intenções de voto em Carlos Mesa. De repente, ele aparece estranhamente com 36% dos votos. Um indício de que, mesmo os partidários de Evo Morales controlando parte da máquina do Estado, a burguesia está disposta a utilizar o seu poder para rifar a esquerda boliviana do poder.
O próprio Morales já havia denunciado, na semana passada, que políticos e militares teriam planos para aplicar um golpe caso ele se reeleja para um quarto mandato. E que a embaixada dos EUA estaria comprando votos de cidadãos contra Morales. É possível que o golpe se dê durante a própria eleição, como se vê a partir desses indícios.
O que é certo é que o imperialismo não está interessado em manter no poder nenhum governo de esquerda, nacionalista, progressista, ou qualquer um que, de alguma forma, contrarie os seus interesses. Nem mesmo governos moderados, como é o caso do boliviano, porque são um empecilho para o domínio dos grandes monopólios. O imperialismo já depôs a maioria dos governos de esquerda na região, fazendo uso de manobras ilegais e golpes de Estado, impondo governos de extrema-direita que, como vemos nos casos de Brasil, Equador e Chile, reprimem ferozmente a população para garantir a entrega de seus países aos grandes monopólios internacionais.
Na Bolívia, não há por que ser diferente. O imperialismo tem a seguinte política atualmente: impedir a esquerda de chegar ao poder, impedi-la de governar e derrubar seu governo, caso chegue ao poder.