O presidente da Bolívia, Evo Morales, denunciou em uma entrevista ao programa “Detrás de la verdad” (“Por trás da verdade”, na tradução em português) que dirigentes da direita e ex-militares preparam um golpe de Estado caso ele se reeleja, e que a embaixada dos Estados Unidos está envolvida diretamente com esse processo.
“Alguns supostos comitês cívicos de Cochabamba ou de La Paz, com alguns ex-militares ou na reserva, com alguns membros do Comitê Cívico de Santa Cruz, se reuniram. Tenho gravações, querem queimar a Casa Grande do Povo [sede do governo desde 2018]”, afirmou Morales. “Quando chegarem os delegados observadores da OEA, da Europa, vamos dar toda a informação correspondente para que saibam como a direita conspira [contra] a democracia e o povo boliviano”, acrescentou.
Na semana passada, durante o comício de encerramento da campanha eleitoral, partidários do atual presidente e seu Movimento ao Socialismo (MAS) foram atacados por direitistas, com insultos e pedras. Evo Morales, então, já começou a denunciar: “O que estão dizendo alguns grupos? Se Evo ganha vamos desconhecer [o resultado eleitoral], se Evo ganha já planejam – quero que saibam – dar um golpe de Estado. Depois falam de democracia, depois nos acusam de ditadura, aí estão os grupos golpistas.”
Sobre a participação do imperialismo norte-americano nessa tentativa golpista, ele citou o encarregado de negócios da embaixada dos Estados Unidos na Bolívia, Bruce Williamson. Ele estaria oferecendo serviços comunitários na zona das Yungas, no departamento de La Paz, em troca de que a população não vote na esquerda.
“Na semana passada eu convoquei o encarregado de negócios da embaixada dos EUA, demonstrei com documentos como este funcionário da embaixada dos EUA vai a Yungas oferecer pavimentação, asfaltamento, contanto que não apoiem o Evo”, disse na entrevista. “Creio que tenha se surpreendido, mas acreditado que ele saiba e se comprometeu a não se meter em temas eleitorais, espero que esteja cumprindo”, completou.
Evo Morales tem tido uma vantagem folgada em todas as pesquisas de intenção de voto desde o meio do ano com relação ao segundo principal candidato, o ex-presidente Carlos Mesa. De acordo com o último levantamento, do instituto Ipsos Bolivia, o atual mandatário teria 40% dos votos, contra 22% do opositor.
Aparentemente, a situação política na Bolívia está estável, ainda mais em comparação com os outros países da América Latina, que sofreram golpes de Estado ou que vivem uma pressão golpista constante – como é o caso da Venezuela ou da Nicarágua. Porém, para quem acompanha o clima boliviano um pouco mais de perto, é visível que a situação é extremamente tensa.
São frequentes as ações da direita para desestabilizar o governo de Evo Morales, geralmente se utilizando dos denominados “movimentos cívicos”, em especial nos departamentos onde a burguesia é mais forte (como Santa Cruz de la Sierra).
Basta lembrar que, em 2008, o país quase entrou em guerra civil quando a direita que governava os departamentos do leste se insurgiu em ações de terror buscando separar essas regiões do resto da Bolívia. Naquele momento, após derrotar o golpe graças à mobilização popular de características semirrevolucionárias, o já presidente Morales expulsou o embaixador norte-americano na Bolívia, porque todo o golpe havia sido promovido pelo imperialismo.
E as atividades golpistas do imperialismo continuam, principalmente através de supostas ONGs ligadas a instituições como a USAID, a NED e a própria CIA, e que atuam em conjunto com políticos da direita boliviana.
Morales acredita que, denunciando a tentativa golpista à OEA, isso o ajudará a derrotá-lo, caso ocorra. No entanto, é bem possível que a própria OEA esteja envolvida nessa golpe, uma vez que a Organização dos Estados Americanos é totalmente subordinada aos Estados Unidos e tem atuado de maneira contundente nas tentativas golpistas na Venezuela, na Nicarágua e em Cuba.
O fato é que, mesmo que Morales vença as eleições do próximo domingo e não haja um golpe imediato, é garantido que a direita boliviana tentará derrubá-lo de alguma maneira. A política do imperialismo na atual conjuntura, particularmente desde a crise de 2008, é aplicar golpes de Estado e instaurar regimes de extrema-direita nos países da América Latina a fim de retirar a esquerda do poder para saquear as riquezas dessas nações.
Embora Evo Morales tenha diversos acordos com a burguesia e com o imperialismo (como, por exemplo, ter entregue Cesare Battisti aos fascistas brasileiros e italianos e ter ido à posse de Bolsonaro), ele é um líder nacionalista, de esquerda e com uma base popular sólida. A burguesia e o imperialismo não admitem um governo dessa natureza e farão de tudo para derrubá-lo, mais cedo do que tarde.