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50 anos

Gol mil, a marca do gênio

Em 19 de novembro, Pelé marcava o Milésimo gol no Maracanã

Há 50 anos, no dia 19 de novembro de 1969, mais de 65 mil pessoas presenciaram o que seria um dos episódios mais importantes da história do futebol. Edson Arantes do Nascimento, o Pelé, marcava seu milésimo gol na partida em que o Santos venceu o Vasco da Gama por 2 a 1 no Maracanã. Quisera o destino que o fato envolvendo o melhor jogador de futebol de todos os tempos acontecesse no templo do futebol mundial. Isso porque o gol não saíra nas partidas anteriores, num amistoso contra o Botafogo-PB e no jogo contra o Bahia, pela Taça Roberto Gomes Pedrosa, terminado em 1 a 1, quando o estádio da Fonte Nova preparou-se para receber o Milésimo mas o gol foi parado pelo zagueiro Nildon em cima da linha.

Restou ao Rio de Janeiro ter o privilégio de ser o palco do Milésimo. Jornalistas e dirigentes de todo o mundo se acotovelavam ao redor do campo. A tarde no Rio era chuvosa, o que não impediu os mais de 65 mil espectadores no Maracanã.

O Santos saiu perdendo, empatou o jogo em 1 a 1. Já por volta dos 33 minutos do segundo tempo, Pelé foi derrubado na área após receber passe de Clodoaldo. Os zagueiros e o goleiro do time cruzmaltino reclamaram muito. O goleiro Andrada, que também o destino quiz que fosse argentino, jogou a bola no chão com raiva. O futebol tem dessas coisas inexplicáveis. Como disseram as manchetes dos jornais baianos dois dias antes sobre o goleiro Jurandir do time do Bahia, Andrada também não queria entrar para a história… pelo menos não como o arqueiro que levara o Milésimo do Rei.

Mas foi impossível segurar aquele pênalti. Pelé empurrou a bola para o fundo das redes e uma comoção tomou conta do Maracanã. Ao final do jogo, volta olímpica.

O Rei do Futebol cravava mais uma marca histórica no esporte mais popular do mundo. Ele que, menos de um ano depois, seria o líder da Seleção mais espetacular que o mundo já viu jogar e jamais verá. Pelé traria o tricampeonato mundial para o Brasil, tornando a Seleção com maior número de títulos até então e trazendo em definitivo para o Brasil a Taça Jules Rimet.

Pelé se firmava então como o gênio dos gênios do esporte.

A expressão máxima do “futebol arte”

Os 50 anos do milésimo gol devem servir para marcar de um ponto de vista histórico e cultural o que significa não apenas a figura de Pelé como o próprio futebol brasileiro.

O futebol brasileiro foi produto de uma luta intensa que se estabeleceu a partir da introdução do esporte no Brasil, trazido pelos ingleses.

Antes restrito aos círculos da elite, portanto brancos ligados à burguesia e às oligarquias, a presença do negro e das massas operárias em geral no futebol só foi possível graças a uma luta que se desenvolveu dentro e fora de campo.

Fora de campo, na esfera social e política, o negro, receém saído de séculos de escravidão, se esforçava por conquistar uma posição social diferente daquela em que fora jogado.

Dentro de campo, para furar o muro que aas elites brancas criaram para deixar os negros e as massas trabalhadoras de fora do futebol, foi preciso o desenvolvimento de um estilo novo de jogar. Um estilo que fosse ao mesmo tempo mais eficiente e capaz de escapar da força bruta do jogo europeu.

Grosso modo, o futebol brasileiro é um resultado da transformação do futebol e algo que já não era exatamente aquele esporte que os europeus haviam introduzido no País. O brasileiro, em primeiro lugar os negros, receberam o esporte e operaram uma transformação nele. Algo como aquilo que Oswald de Andrad chamou de antropofagia.

O futebol brasileiro, sinônimo de futebol arte, tornou-se então um fenômeno cultural e parte da formação do povo brasileiro.

Esse futebol, muito mais eficente e criativo, conseguiu estabelecer-se, com muita dificuldade, como a escola dominante no mundo.

Pelé, negro retinto, um representante da típica família pobre do interior do País, se tornou o cume desse futebol transformado em arte. Se antes de Pelé nomes como Arthur Fredeireich e Leonidas da Silva – e tantos outros – já se destacavam como imbatíveis, Pelé se coloca como o ponto máximo desse desenvolvimento.

Aliando uma habilidade quase sobre humana com a bola nos pés, a criatividade dos maiores artistas e um preparo físico profissional, Pelé foi o gênio do esporte.

Os grandes gênios da humanidade são produto de seu tempo. Eles são o cume, ou seja, a expressão mais acabada, a síntese de tudo aquilo que de mais importante foi feito até ali. Entre os grandes gênios da humanidade, cada um no seu ramo artístico, podemos colocar Camões, Shakespeare, Mozart, Beethoven, Leonardo da Vinci.

E é preciso deixar claro também que para que apareça alguém capaz de desbancar Pelé, seria preciso que novas condições históricas, sociais e econômicas fossem abertas. Os gênios demoram a aparecer, a humanidade demora a criá-los. O Brasil de sua época foi capaz de produzir jogadores que se aproximaram do Rei, mas a coisa termina aí. Portanto, qualquer tentativa de comparação de outro jogador com Pelé é puramente propaganda sem base real. Ou porque isso interessa aos grandes monopólios capitalistas, que procuram a todo o momento motivos para lucrarem.

Sem sombra de dúvida, Pelé é o gênio de um esporte que foi transformado em arte pelo povo pobre, oprimido, explorado e massacrado. E que só poderia ser assim, já que se trata de uma manifestação cultural de massas, no período em que as massas preparam a derrubada de seu maior entrave.

Nesse aniversário do Milésimo gol, aproveitamos então para dizer. Se o século 20 teve um gênio, ele é negro e brasileiro. A esquerda pequeno-burguesa brasileira, cada vez mais colonizada, ignora a importância de Pelé. Uma olhada rápida pelos jornais da esquerda e pouco ou nada se falou sobre o Milésimo gol do Rei. Dedicada a detratar os ídolos nacionais, exigindo deles mais do que se propuseram a fazer, a esquerda com sua mentalidade de classe média, se coloca na contramão da história de seu próprio povo, permitindo que a burguesia faça demagogia com aquilo que ela sempre foi contra.

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