Quando a imprensa burguesa aponta um derrotado num processo eleitoral como alguém que “demonstrou força política” e “saiu fortalecido” mesmo perdendo, algum interesse escuso está em jogo. Em matéria publicada no site de esportes da Globo, o empresário Augusto Melo é exaltado, pois teria ganhado força nos bastidores.
Tendo se apresentado de modo farsesco como o único candidato de oposição real, Melo foi apoiado por apenas uma das oito chapas que vão compor o Conselho do clube a partir de 2021. Mesmo assim, é apresentado pela Globo como “fiel da balança” (aproveitando para fazer referência à maior torcida do clube, a Gaviões da Fiel). A própria matéria aponta que o empresário procura integrar a gestão do eleito Duilio Monteiro Alves, ao mesmo tempo em que já anunciou que concorrerá nas próximas eleições do clube.
Empresário de jogadores, atuando desde que ocupou cargo de assessor das categorias de base do clube, Melo fez uma campanha de “oposição” muito moderada. Justamente pelo grande envolvimento na negociação de jogadores da base alvinegra. Melo saiu do cargo justamente em 2016, após a repercussão do envolvimento de conselheiros do clube na venda de direitos econômicos de um jogador das categorias de base para um empresário estadunidense.
Fora do cargo, continuou no mesmo ramo e em 2018 “alugou” as categorias de base do União Barbarense, clube do interior de São Paulo. Nesse período seu grupo de empresários foi acusado de interferir na escalação dos jogadores. Na sua chegada, por exemplo, o treinador Rodrigo Cebola foi demitido e afirmou que não aceitou as imposições.
Esse é um esquema muito comum, com casos até na Seleção Brasileira. Jogadores que aparecem “do nada” na seleção de futebol mais importante do mundo. Quando se investiga, aparecem os empresários de jogadores.
Durante o processo eleitoral, o empresário anunciou acordos milionários, um deles envolvendo até 200 milhões de reais por ano. Além disso, anunciou acordo “engatilhado” com a NFL para receber um jogo da liga estadunidense de futebol americano no Itaquerão.
Apesar de não defender explicitamente a adoção do modelo clube-empresa no Corinthians, Melo teve como uma das suas principais propostas a separação financeira entre o clube social e o futebol do Corinthians. Segundo ele, o futebol está sustentando o social e não teria mais recursos para isso.
O que acontece na prática com os clubes-empresa é que essa separação é um dos requisitos. Enquanto o clube administra sua sede social, os investidores mandam e desmandam nos negócios envolvendo o time de futebol. O apoio da entreguista Globo ao candidato-empresário indica que os capitalistas do futebol têm planos para se apoderar do Timão.