Uma criminosa invasão foi recentemente realizada por uma força tarefa organizada por soldados do Exército reacionário, agentes da Polícia Militar (PM), Polícia Civil (PC) e a Força Nacional. Esse escandaloso evento aconteceu no dia 23 de abril passado, em dois acampamentos localizados na área da fazenda Jatobá, no município de Machadinho D’Oeste, em Rondônia. Na ação, duas camponesas foram presas.
Com requinte de crueldade, a invasão dos camponeses contou com todo o peso do Estado e seu braço repressivo, que não economizou esforços, disponibilizando, inclusive, apoio aéreo com auxílio de um drone, que localizou os acampamentos a milícia fascista na destruição do que encontraram pela frente: barracos, utensílios domésticos, e ferramentas de trabalhos, incluindo espingardas, facões, foices e outros instrumentos, que foram expropriados dos camponeses.
Em represália, os trabalhadores, no dia 26 de abril, montaram barricadas e interromperam o acesso ao acampamento com incêndios e cortes de cercas da fazenda.
Na verdade, aqui não começa e nem termina essa luta, que, além de antiga, já vem sendo travada pelos trabalhadores do campo há algum tempo na fazenda Jatobá pelo direito à terra. Os acampamentos ali existentes já foram alvos de ataques covardes, como o ocorrido, por essa milícia armada, e que tem por trás dela o dedo dos fazendeiros da região, nesse caso específico da Jatobá, o latifundiário Tiago Lopes Moura e sua família, que se reivindicam donos da fazenda, uma área de 800 alqueires, mas também o apoio do golpista e presidente ilegítimo Bolsonaro.
Em 2015, famílias camponesas foram brutalmente atacadas por 12 elementos com armas de fogo de grosso calibre e vestidos com roupas camufladas. Os criminosos invadiram o acampamento, ameaçaram, espancaram, torturaram, roubaram e expulsaram os trabalhadores. Um dos acampados teve a orelha queimada com um isqueiro para dar informações e outro foi espancado cortado com golpes de um facão.
Os trabalhadores buscaram se organizar e formaram a Liga dos Camponeses Pobres (LCP). Em 2019, a LCP fez uma denúncia desses pistoleiros e policiais militares das cidades de Ariquemes, Machadinho d’Oeste e distrito do Quinto BEC, localizadas no Estado de Rondônia, de onde sai esse bando armado a serviço de grandes fazendeiros da região, e também os contratados por Tiago.
O 5º BEC, Batalhão de Engenharia de Construção, com sede em Porto Velho, está na região desde 1965, quando foi criado pelo Decreto nº 56.629, com a finalidade de incumbir-se de uma parte das missões rodoviárias atribuídas ao Ministério do Exército, especificamente na Amazônia Ocidental, e que nutria a meta de interligar essa região aos grandes centros do país. Entretanto, alguns dos vários problemas existentes surgem por conta das rodovias projetadas cortarem parques ambientais, terras indígenas, e acampamentos de terras improdutivas ocupadas pelos trabalhadores do campo.
A economia da região tem força na pecuária, e, principalmente em Ariquemes, é grande o seringal, forte a produção de café, cacau, guaraná e cereais, além do maior garimpo de cassiterita a céu aberto do planeta. Em Porto Velho também não é diferente. O maior centro entre eles, com pouco mais de meio milhão de habitantes, o agronegócio, com extração da madeira, e também a pecuária, se constituem no ponto forte da economia.
Como já se viu pelo governo golpista, o apoio ao latifúndio em detrimento dos camponeses, índios, seringueiros, garimpeiros, e etc. têm sido incentivado, incluindo aí o poder judiciário e a diminuição da fiscalização de setores como FUNAI, INCRA e o IBAMA. Também como parte dessa maior militarização reacionária, uma verdadeira guerra está sendo desatada e que tende a se aprofundar em um futuro próximo. O vice-presidente e general reacionário, Hamilton Mourão, afirmou no dia 29/04 que será decretado, para os próximos meses, uma nova “Garantia da Lei e da Ordem” (GLO) para combater “preventivamente” as queimadas e desmatamentos, que “costumam acontecer” nessa época do ano.
A atuação do Exército, constatada no ataque deste ano, é resultado de sua inserção na região como parte do aparato de guerra mobilizado pelo velho Estado à serviço do latifúndio. A Força Nacional, presente intensivamente no estado desde setembro de 2014 com a Operação “Jamari”, teve reforços enviados em 2019 sob a pretexto de “combate” aos incêndios na Amazônia. Em realidade, as forças policiais agem na repressão e investigação dos camponeses juntamente com o aparato policial como equipes da Polícia Federal e da Agência Brasileira de Inteligência (Abin).