Um dos conflitos envolvendo Executivo e Legislativo gira em torno das emendas parlamentares. Como se pode imaginar, a briga é intensa para ver quem vai colocar as mãos numa bolada que gira na faixa das dezenas, centenas e até bilhões de reais. Este é um dos aspectos da “crise de governabilidade” que impera em Brasília, e se aprofunda conforme o golpe avança. A burguesia precisou mobilizar uma série de forças não coesas para sucatear instituições e enfraquecer a esquerda, e agora todos os setores golpistas brigam entre si por uma fatia do bolo.
É notório que os militares querem dar um golpe de Estado, pois esta é a forma militar de governar – sob a força das armas. Neste sentido, fazem suas aproximações sucessivas, nas periferias, nas escolas, nas instâncias de governo, nas empresas estatais etc. Mas para realmente imporem um governo militar, precisam dar um golpe no Congresso, o que é uma manobra sempre arriscada.
Nesta semana, o ministro de Segurança Nacional, General Augusto Heleno, provavelmente o homem mais forte das Forças Armadas, atualmente, tentou mais uma “aproximação sucessiva” no sentido do golpe militar, incitando o presidente Bolsonaro a convocar o povo às ruas, contra o Congresso, sob o pretexto das tais “emendas parlamentares”.
Heleno não coloca, ele próprio, o povo nas ruas, por que não consegue e, em segundo lugar, não quer sujar as próprias mãos. Mas sua tentativa é clássica: empurrar o presidente e sua base fascista para uma briga com o Congresso, o que tende a enfraquecer ambos os lados e desorganizar ainda mais regime. Com isso, abre-se brechas no regime para uma intervenção militar, ou seja, uma tomada do poder central, sob o velho pretexto de impor a ordem, tirar “terroristas” das ruas, estabelecer um Estado de sítio, fazer uma “transição democrática” lenta e gradual, etc.