Nesta sexta-feira (23), o candidato a prefeito de São Paulo pelo PSOL, Guilherme Boulos, irá se reunir com representantes da Guarda Civil Metropolitana (GCM). Embora o encontro não tenha ocorrido antes do fechamento dessa edição, seu assunto principal já havia sido adiantado em matéria da Revista Fórum: Boulos vai ouvir as “demandas” dos guardas e propor seu “programa” para a GCM. Dito de outro modo, o candidato do PSOL, que tem competido seriamente com os políticos burgueses na disputa de quem mais faz promessa mentirosa, irá se sentar com a extrema-direita e dar aulas de civilidade.
É ridículo, mas é a realidade. Vejamos as promessas através das palavras do próprio Guilherme Boulos:
“Vamos fazer da Guarda Civil Metropolitana um instrumento de segurança cidadã, mais participativa e integrada ao dia a dia das pessoas em seus bairros. (…) Os profissionais da GCM – atuais e novos, que serão contratados – receberão capacitação para inibir a violência contra mulher, combater o racismo e a lgbtfobia”.
Como um típico pastor charlatão, que grita para um cadeirante erguer-se de pé e começar a andar, Boulos promete que, com seus super poderes, fará os agentes da repressão deixar de fazer aquilo pelo que são contratados: reprimir a população. A proposta fantástica, contudo, vem acompanhada de seu método igualmente incrível: cursos de capacitação para os guardas civis.
Não seria essa a primeira “receita” de Guilherme Boulos para transformar a realidade. Com efeito, o psolista, em plena campanha presidencial, lançou uma brochura intitulada “50 receitas de Boulos para mudar o Brasil”. E todas as receitas cumprem um mesmo objetivo: ignorar que os problemas fundamentais da classe operária passam, obrigatoriamente, por uma luta política contra seus algozes, e depositar todas as esperanças nas mãos de um indivíduo, que, obviamente, é incapaz de confrontar a classe dominante somente com “boas ideias”.
A questão da guarda municipal é um caso exemplar. Afinal, a repressão é um problema de classe, não é um problema em abstrato. As polícias — e não podemos deixar de considerar a GCM como um tipo de polícia — são o braço armado do Estado. Tem como função última, portanto, defender a propriedade privada. E, na medida em que a defesa da propriedade privada vai se tornando um ato cada vez mais injusto, uma vez que a crise capitalista vai aprofundando a desigualdade social, as polícias só podem se tornar mais violentas. Ou seja, a única maneira de ter uma polícia não violenta seria dissolver as contradições entre a burguesia e a classe operária, conduzindo as classes sociais para uma convivência pacífica. Tal coisa é impossível.
A própria pandemia mostrou que isso é impossível. Em um dos momentos mais dramáticos de toda a existência da classe operária, os capitalistas decidiram atirar milhares e milhares de pessoas à morte e ao desemprego para manter seus lucros.
A única maneira de impedir que a polícia seja um instrumento do fascismo é acabando com ela. Nesse sentido, as reivindicações de qualquer organização de esquerda e dos setores democráticos devem estar dirigidas à dissolução das polícias e a submissão de todas as polícias ao controle popular. Ao invés de manter a polícia atrelada ao Estado e lutar para gerir o Estado burguês, é preciso lutar para que as polícias sejam formadas nos locais onde residem a classe operária e que seus chefes sejam eleitos pelo povo.
O cargo de chefe do Poder Executivo não equivale, nem de longe, ao controle efetivo do Estado burguês. Trata-se apenas de uma ilusão fomentada pela burguesia para contentar parcialmente as massas. O fato, no entanto, é que a “democracia” tão alardeada pela classe dominante, em que a população comparece às urnas para escolher seus representantes, não passa de uma ditadura da burguesia sobre os setores explorados.
Isso quer dizer que, no fundamental, mesmo que um determinado candidato seja bem intencionado, ele será incapaz de modificar as questões mais fundamentais na sustentação do Estado burguês. O caso do golpe de 2016, inclusive, deixa isso bastante claro: mesmo um governo com ampla base popular, que era o governo de Dilma Rousseff, por se contrapor aos interesses do imperialismo, acabou sendo derrubado. E foi derrubado justamente porque o Estado burguês dispunha das ferramentas para se livrar dos setores que se rebelam ou que, em alguma medida, coloque-se contra seus interesses: o Judiciário, a Polícia, o Ministério Público, o Congresso Nacional etc.
A única maneira de forçar o Estado — e, portanto, a burguesia — a adotar o programa revolucionário dos trabalhadores é por meio da mobilização da classe operária contra seus inimigos. E, nesse sentido, a candidatura do PSOL passa a quilômetros de distância: Boulos pretende ser “eleito” por meio dos mecanismos desenvolvidos pela própria burguesia para sustentar sua ditadura: a demagogia eleitoreira, a imprensa burguesa, os conchavos políticos etc.
Quando Guilherme Boulos e Luiza Erundina dizem que vão mudar a política da GCM por meio de uma “capacitação”, estão somente garantido que o aparato de repressão continue do jeito que está. O “Gabinete do Amor”, conforme a própria chapa psolista se autointitula, não será capaz de modificar em absolutamente nada a GCM por meio de seus “brilhantes” argumentos, pois o problema da repressão não será resolvido por meio de uma “reeducação”. Se o PSOL decidir “amar” a polícia, não receberá amor em troca. Ou melhor, receberá o único tipo de “amor” que a GCM conhece: o amor de seus agentes aos cassetetes quando se deparam com suas vítimas.