Por quê estou vendo anúncios no DCO?

Futebol feminino: pouca chance para os oprimidos

Nesse domingo, dia 7, terminou a oitava edição da Copa do Mundo de Futebol Feminino com a Seleção norte-americana sendo campeã vencendo a Holanda por 2 a 0. Esse foi o quarto título das norte-americanas.

Durante a Copa Feminina muito se falou sobre o futebol jogado pelas mulheres, a burguesia imperialista, na onda de demagogia identitária, nunca fez tanta propaganda do torneio, a ponto de que a rede Globo, sucursal da imprensa imperialista no Brasil, transmitiu pela primeira vez os jogos na TV aberta.

A esquerda pequeno-burguesa, que já há algum tempo adotara a ideologia identitária promovida pelo imperialismo, seguiu obedientemente as orientações da burguesia e fez propaganda da Copa. Tanto que, mesmo a parte da esquerda pequeno-burguesa que ignora ou odeia o futebol, procurou divulgar o futebol feminino.

Chegaram ao absurdo – e isso também foi uma coincidência da direita e da esquerda – de comparar maliciosamente o futebol masculino e o feminino, as jogadoras dos jogadores. Maliciosamente pois qualquer pessoa que conhece minimamente o esporte sabe que uma comparação desse tipo não cabe. Maliciosa e maldosa porque tal demagogia não vai – a não ser que haja uma organização das próprias jogadoras brasileiras – melhorar as péssimas condições a que estão submetidas as jogadoras brasileiras.

Mas a demagogia vale mais do que uma política séria e isso une a burguesia e a esquerda pequeno-burguesa. Com isso, as jogadoras serão esquecidas até a próxima oportunidade.

A política demagógica impede que seja feita uma apreciação correta sobre o fenômeno do futebol feminino. Como explicar por exemplo, que os Estados Unidos foram campeões de metade das Copas. Como explicar que nenhum país economicamente atrasado? Para se ter uma ideia, em apenas duas edições um País pobre chegou à final: a China em 1999 e o Brasil em 2007. E por que, no caso do futebol masculino, países atrasados como Brasil, Argentina e Uruguai são considerados potências estabelecidas do esporte? Com certeza não será com demagogia que vai ser encontrada a explicação para isso.

Antes de mais nada é preciso entender o futebol feminino com um tempo de desenvolvimento muito mais recente do que o masculino. Mais de meio século separa um do outro no sentido do seu nascimento como esporte organizado.

Essa diferença em qualquer outro esporte já seria o suficiente para impugnar a comparação das duas modalidades (masculino e feminino). No futebol, no entanto, tal diferença é ainda mais significativa. Isso porque o futebol é produto de um desenvolvimento muito peculiar que não ocorreu com a maioria dos esportes.

O futebol como conhecemos hoje é produto de uma luta que se desenvolveu por décadas – e acontece até hoje – entre a classe operária e a burguesia dentro de cada país e entre os povos oprimidos e os países imperialistas de um ponto de vista geral. O futebol surgiu como um esporte essencialmente de força como a maioria das modalidades, dominado pela burguesia e os países imperialistas. Mas a chegada do esporte na América do Sul acabou executando uma transformação no futebol. Os sul-americanos, em primeiro lugar os brasileiros, por uma série de questões, acabaram desenvolvendo uma nova técnica no esporte a partir do que havia chegado da Europa. Essa nova técnica é produto da necessidade dos negros e dos trabalhadores de se impor sobre os brancos europeus e a burguesia que até então controlava o esporte. Em suma, os oprimidos para conseguir seu lugar no futebol foram obrigados a desenvolver uma técnica superior que obrigou através de uma luta intensa a burguesia a aceita-los nos gramados.

Essa nova técnica saída dessa luta obviamente não passava por um enfrentamento de força, um enfrentamento meramente muscular, pois os oprimidos levam necessariamente a desvantagem nesse ponto. A nova técnica é o que hoje se convencionou chamar futebol arte ou escola sul-americana de futebol. Os oprimidos superaram a força dos opressores através da inteligência, da criatividade, do gingado, do drible, das inovações.

Essa lua se dá até os dias de hoje. Mas até certo ponto pode-se dizer que os oprimidos saíram vitoriosos. O futebol sul-americano se impôs sobre os outros por ser tecnicamente superior. A luta entre a inteligência, a criatividade e a inovação dos oprimidos contra a força bruta dos opressores continua até hoje, mas é um fato inegável, ainda que o imperialismo se esforça por evitar o domínio sul-americano no futebol, que a transformação imprimida pelos sul-americanos acabou por influenciar e transformar o futebol mundial. E é isso que permite que seleções de países atrasados consigam jogar de igual para igual contra seleções dos países imperialistas, mesmo toda a dificuldade imposta pelo atraso econômico.

Esse é o futebol como conhecemos hoje. Produto desse desenvolvimento de décadas.

Para entender o que ocorre com o futebol feminino é preciso entender essa história. Por uma série de problemas históricos, as mulheres não praticavam o futebol, pelo menos não como um fenômeno de massas. Por isso, o esporte é muito mais recente e a luta que se travou desde o início do século entre europeus e sul-americanos atinge de maneira menos decisiva o futebol feminino.

Como é um fenômeno recente, embora inegavelmente ele seja influenciado pela luta histórica ocorrida no futebol masculino, a burguesia e os países imperialistas conseguem controlar com muito mais facilidade o esporte. Prevalece então a força do opressor sobre a criatividade do oprimido.

É inegável que as jogadoras brasileiras assim como no masculino são superiores tecnicamente. O problema está em que a falta de estrutura da modalidade no Brasil e o atraso do País pesam muito mais sobre elas do que sobre a Seleção masculina.

Por isso que norte-americanas, que vêm de um país que chama futebol de outra coisa, alemãs, suecas etc conseguem se impor sobre as sul-americanas. Nesse sentido, diferente dos campeonatos de futebol masculino, os resultados dos campeonatos femininos seguem mais a lógica das modalidades olímpicas: quem tem mais dinheiro e portanto mais força – no sentido político e também no sentido muscular – vence. O imperialismo está se aproveitando disso inclusive para aumentar o mercado do futebol europeu e norte-americano, por isso também o excesso de propaganda demagógica em relação ao futebol feminino nessa Copa.

As jogadoras brasileiras têm plenas condições de superar a força bruta, mas isso será produto de uma intensa luta para desenvolver, não a simples força muscular, mas o futebol brasileiro.

Gostou do artigo? Faça uma doação!

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Diferentemente de outros portais , mesmo os progressistas, você não verá anúncios de empresas aqui. Não temos financiamento ou qualquer patrocínio dos grandes capitalistas. Isso porque entre nós e eles existe uma incompatibilidade absoluta — são os nossos inimigos. 

Estamos comprometidos incondicionalmente com a defesa dos interesses dos trabalhadores, do povo pobre e oprimido. Somos um jornal classista, aberto e gratuito, e queremos continuar assim. Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.

Quero saber mais antes de contribuir

 

Apoie um jornal vermelho, revolucionário e independente

Em tempos em que a burguesia tenta apagar as linhas que separam a direita da esquerda, os golpistas dos lutadores contra o golpe; em tempos em que a burguesia tenta substituir o vermelho pelo verde e amarelo nas ruas e infiltrar verdadeiros inimigos do povo dentro do movimento popular, o Diário Causa Operária se coloca na linha de frente do enfrentamento contra tudo isso. 

Se já houve um momento para contribuir com o DCO, este momento é agora. ; Qualquer contribuição, grande ou pequena, faz tremenda diferença. Apoie o DCO com doações a partir de R$ 20,00 . Obrigado.