A nova onda da esquerda pequeno-burguesa, particularmente dos seus setores mais oportunistas, é defender a todo custo a aliança com a direita golpista em nome de um suposto combate a Bolsonaro, que na verdade, quando muito não passa de mero discurso. É a chamada frente ampla.
Para justificar essa política desastrosa e criminosa + cujo único resultado só pode ser colocar a esquerda e o movimento de massas a reboque da direita e da burguesia, ou seja, só pode resultar na derrota do movimento -, os setores da esquerda que a levam adiante usam de todo o tipo de absurdo. É uma espécie de desespero argumentativo que aumenta quanto mais absurda é a política que querem defender. Esse é o caso do artigo “Lições da vida para construção de frentes amplas”, escrito Jorge Gregory e publicado no sítio Vermelho do PCdoB.
Já o título demonstra o tom forçado da argumentação: a frente ampla seria explicada pela experiência da vida das pessoas. E é assim mesmo que inicia o artigo, comparando uma pessoa obesa atrás de uma roupa com a necessidade de uma organização política realizar uma frente.
Ainda mais forçada é a utilização do revolucionário russo, Lênin, para justificar a frente ampla. Lênin, que durante toda a vida se dedicou a combater a política de aliança com a burguesia, que formulou uma teoria da revolução provando cientificamente que a burguesia não tem condições de levar adiante nenhuma luta para a libertação do povo, tornou-se um defensor da frente ampla para o colunista do Vermelho, numa falsificação ao melhor estilo stalinista, como cabe ao PCdoB.
Lênin aparece no texto como uma cobertura de um bolo que ninguém quer comer. No caso, esse bolo é a aliança com FHC, Rodrigo Maia, Luciano Huck e quem mais aparecer como grande “defensor da democracia”, mesmo que seja um notório golpista e inimigo do povo.
Para aquele colunista, não bastou levantar em vão o nome do revolucionário russo e falsificar uma citação qualquer que pudesse parecer caber na sua defesa da frente ampla. O colunista do Vermelho recorre também à falsificação da história recente do Brasil.
Em primeiro lugar, recorre à campanha das “Direitas já”. Segundo ele, “tendo à frente uma ampla frente que ia dos comunistas a setores conservadores abrigados no MDB. Muitas correntes de esquerda se negavam a subir no palanque, afirmando que esta frente significava uma conciliação com a burguesia, que a ditadura só seria derrotada com a implantação de um governo dos trabalhadores ou de um governo operário.” Os que corretamente acusavam a manobra da burguesia para conter o movimento gigantesco de rua que se produziu ao final da ditadura estavam errados. Certos eram os elementos da esquerda – entre eles o PCdoB – que procuraram jogar esse movimento nos braços da burguesia, incluindo setores egressos da ditadura.
Ao canalização do movimento para essa aliança parlamentar tinha como único resultado a derrota, como de fato aconteceu. Segundo o colunista do Vermelho, essa derrota foi positiva pois “a ampla frente se alargou ainda mais, abrigando setores dissidentes do próprio regime, e lançou as candidaturas de Tancredo e Sarney.” Quer dizer, quanto maior a frente, quanto mais à direita, melhor. E o resultado foi o governo Sarney, um elemento vindo da ditadura militar.
O resto da história, que nosso colunista interpreta sempre como algo positivo e teria relação inclusive com a eleição de Lula, nem precisamos contar.
A falsificação grotesca da história recente do Brasil mostra por que o desespero pela frente ampla agora. Na realidade, é a velha política de uma esquerda burguesa, parlamentar, de colocar todo o movimento a reboque da direita. O movimento gigantesco que se formou para a derrubada da ditadura, não fosse a política de frente com a burguesia, teria condições de impor uma enorme derrota à ditadura e à burguesia.
O movimento de massas, que poderia impor o fim da ditadura sob condições favoráveis aos trabalhadores, saiu derrotado e impôs ao Brasil os anos de Sarney.
O que se coloca neste momento é a derrota de Bolsonaro e do golpe, e isso passaria por uma mobiliação independente ou pela aliança com os próprios golpistas numa alternativa parlamentar para a crise? Se depender do PCdoB e de seu colunista, e de todos os defensores da frente ampla, a derrota é certa, assim como aconteceu nas “Diretas já”.