As eleições municipais no Uruguai demonstraram, uma vez mais, o fracasso retumbante da política de colaboração de classes entre a esquerda e a burguesia na América Latina. Dessa vez, a Frente Ampla, coalizão em que está contida a maior parte da esquerda uruguaia, esteve perto de perder as eleições em Montevideo. Detalhe: na capital uruguaia, a Frente Ampla controla todo o aparato estatal.
As eleições aconteceram no dia 27 de setembro. A Frente Ampla obteve 53,3% dos votos totais, contra 39% da Coalizão Multicolor, que reúne os partidos da direita e da extrema-direita. Dentro da Frente Ampla, a candidata Carolina Cosse conseguiu a maioria dos votos, superando Álvaro Villar e Daniel Martínez.
O resultado apertado em um departamento tradicionalmente controlado pela Frente Ampla não é seu único retrocesso. O Partido Nacional, organização da direita uruguaia, conquistou 15 dos 19 departamentos totais do país. Ao mesmo tempo, o partido de extrema-direita Cabildo Abierto teve um crescimento bastante expressivo.
O avanço da direita sobre o regime uruguaio, por sua vez, está diretamente relacionado com a posutra da esquerda uruguaia. Nos últimos anos, a esquerda renunciou, sucessivamente, a ter uma política combativa em relação à extrema-direita. Mesmo 35 anos após o fim da ditadura militar uruguaia, os militares seguem impunes. E agora, em que a extrema-direita vai sendo impulsionada em todo o mundo para responder à crise do regime, os militares estão levantando a cabeça.
É o caso, por exemplo, do fascista Guido Manini Ríos, que já se consolidou como a principal liderança da extrema-direita uruguaia. General, Manini Ríos é considerado pela imprensa uruguaia como uma das principais figuras a darem as cartas no regime político uruguaio.
Manini Ríos chegou, inclusive, a integrar o governo Mujica. Nas últimas eleições, apareceu com 11% das intenções de voto, tendo se candidato por um partido formado recentemente.
Ao mesmo tempo em que Manini Ríos vai obtendo maior influência sobre o regime, a posição da esquerda continua sendo a mesma: a de procurar se aliar aos setores aparentemente mais “democráticos” da burguesia ou de capitular abertamente contra a extrema-direita. O caso de Mujica, principal figura da esquerda no país, é exemplar: na medida em que o cerco vai se fechando e a direita vai tomando conta, o líder decidiu se aposentar da vida pública. Uma capitulação que demonstra a falta de disposição de um enfrentamento real.
É preciso rejeitar completamente esse tipo de política. A Frente Ampla não é exemplo algum para o Brasil: a única maneira de impedir o avanço do fascismo é por meio da mobilização dos trabalhadores.