Engana-se quem considera o fascismo como única cartada da burguesia. Para não perder o domínio do regime político, os capitalistas lançam mão de velhos estratagemas. Dever-se-ia ser de conhecimento geral, ao menos para a esquerda que carrega a insígnia do comunismo, mas a esquerda pequeno-burguesa nitidamente nega a história do movimento operário e adere à desastrosa política de distensão da burguesia: a frente ampla.
Numa política completamente capituladora, o PCdoB orgulha-se, em seu sítio na internet, de ter participado de “live” mediada pelo presidente nacional do PV, José Luiz Penna, que reuniu partidos como o Cidadania, e figuras como Ciro Gomes (PDT), Marina Silva (Rede) e Lídice da Mata (PSB), além do deputado federal Orlando Silva (PCdoB – SP). Intitulada de Janelas Temáticas – a reunião obviamente não abordou a questão central, isto é, dos ataques do governo golpista contra a população de conjunto. O objetivo central foi a defesa da censura na internet.
Segundo a matéria, “o PCdoB, PSB, PV, PDT, Cidadania e Rede estão conscientes de que não há mais nada a fazer sobre o estabelecimento de regras duras para coibir fake news nas eleições municipais [grifo nosso], mas é necessário trabalhar por uma legislação que possibilite o chamado ‘jogo limpo’ nas eleições de 2022”. Ora, nada mais alucinado. Esperar “jogo limpo” de um regime controlado pela extrema-direita que deu o golpe em 2016 e impediu a participação do candidato mais popular do país? Será alucinação ou puro oportunismo? Deixemos que o ilustre deputado do PCdoB nos tire essa dúvida.
“Nós temos que mirar na eleição de 2022. Passada a eleição (municipal), o Congresso Nacional tem obrigação de concentrar energia nesse assunto”, disse Orlando Silva (PCdoB – SP). “Minha concepção é que o TSE está apostando muito na auto-regulamentação (sic) das plataformas. Eu não apostaria tanto. É necessário haver regras nos termos que o Ciro (Gomes) chamou atenção”, complementou.
Para Marina Silva, representante dos banqueiros, a questão é não confundir liberdade de expressão com disseminação de “ódio e mentira”, porque “a liberdade de expressão não é para disseminação do ódio e aos ataques pessoais a quem quer que seja”, disse. A fala de Marina per se é uma contradição, pois se há algum tipo de norma a ser seguida, não há liberdade de expressão.
Já para Ciro Gomes, trata-se de um ponto de equilíbrio entre o domínio dos golpistas e a possibilidade da frente ampla se colocar como uma alternativa. “Enfim, a nossa tarefa é achar o ponto de equilíbrio entre a ampla liberdade que é boa para os produtores de conteúdo e a responsabilização pelo fim do anonimato e a influência do dinheiro sujo e da propaganda produção de mentiras que deforma a opinião pública e, portanto, destrói a democracia”, disse.
Em suma, o próprio fato de o PCdoB ter feito essa “live” com Ciro Gomes, Marina Silva, PV e Cidadania, expõe a grande capitulação do PCdoB diante da direita – o que temos acompanhado desde o início do golpe de Estado. Mas não é só isso: na “live” um dos pontos principais foi a discussão da censura às supostas “fake news”, aumentando o poder do Estado – controlado pela extrema-direita – sob a internet.