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Contra Bolsonaro. A favor de?

A armadilha da “frente ampla” para salvar o regime golpista

Um esclarecimento sobre o significado da política defendida pela maioria da esquerda

Coluna publicada pela jornalista do sítio 247, Tereza Cruvinel, sob o título “Frente ampla contra Bolsonaro” explica com clareza a política de frente ampla, defendida por vários setores da esquerda burguesa e pequeno burguesa diante da crise.

Segundo a jornalista, “a esquerda, dividida e debilitada, precisa entender que não haverá afastamento de Bolsonaro se não houver aliança com o centro e com setores de direita não-bolsonaristas”.

“Bem” x “Mal”?

Para Cruvinel, o anuncio público de ruptura política com o ex-capitão da parte do governador de Goiás, Ronaldo Caiado, é um “sintoma inequívoco do largo isolamento de Bolsonaro”, o que ela atribui ao fato de que o fundador e ex-presidente da organização de perseguição e extermínio de sem terras, a União Democrática Ruralista (UDR), estaria “rejeitando o caminho desatinado proposto por ele no desastroso pronunciamento de ontem e optando pela manutenção das medidas restritivas para mitigar os danos e perdas de vidas que nos serão impostos pelo coronavirus”.

Estaria assim instalado no Brasil a luta entre o “mal”, representado por Bolsonaro, e o “bem”, representado por tudo que não seja “bolsonarismo”, incluindo, além de Caiado, Dória, Witzel, FHC, Maia e tudo mais de pior que a reacionária política burguesa, anti-povo, neoliberal, produziu no País e colocou a serviço de derrubar com um golpe de Estado a presidenta Dilma Rousseff, condenar e prender ilegalmente o ex-presidente Lula, aprovar todo tipo de “reformas” contra o povo e, inclusive, ajudar a colocar Bolsonaro no governo, diante da falência dos seus partidos e candidatos e da necessidade dessa direita de derrotar a esquerda, em 2018.

O problema central, não seria deter o genocídio do povo, não seria impedir que a burguesia golpista tire proveito da situação atual para aprofundar a miséria, o desemprego e a expropriação do povo para salvar os bancos e os grandes monopólios, mas simplesmente “deter Bolsonaro, que se tornou [sic] um perigo para o Brasil”.

Com esta compreensão, que repete uma pregação feita pelos setores que apoiaram Bolsonaro contra o “perigo” da esquerda, Cruvinel, como a imensa maioria da esquerda, se lança no apoio à “frente dos governadores”- praticamente todos, crias das eleições fraudulentas que levaram Bolsonaro ao governo e apoiadores de sua política contra a imensa maioria do  povo. Uma situação que ficou evidente em muitos momentos, como – po exemplo – no caso do roubo de mais de R$ 1,3 trilhão da previdência de dezenas de milhões de trabalhadores por meio da “reforma” da Previdência aprovada no Congresso Nacional e nas Assembléias Legislativas pelos bolsonaristas e seus aliados, “opositores” e atuais adversários.

Quem comanda a frente?

A colunista afirma que o país “não pode ser prisioneiro de Bolsonaro porque ele tem apoio de uma parcela da sociedade”, mas não aponta quais os interesses sociais que deveriam prevalecer sobre os que ele representa. Seriam por acaso os interesses do punhado de capitalistas representados pelos governadores e chefes políticos do PSDB, DEM, MDB, Novo, PSD etc? Ou seriam os interesses da classe trabalhadora, da imensa maioria do povo brasileiro, representado pelas organizações de luta dos trabalhadores, pela esquerda?

Como a maioria das direções da esquerda, Cruvinel faz uma opção, afirmando ser “necessária a tal frente ampla e democrática anti-Bolsonaro”. Deixando de lado que tal aliança com a direita golpista não é mais do que uma subordinação à direita e ao seu programa diante da crise, um programa de expropriação dos trabalhadores em favor do grande capital em crise. Pois se não fosse para isso, não seria necessária nenhuma aliança, bastaria que todo mundo, por exemplo, votasse pelo impeachment, destituindo Bolsonaro e pronto.

Como em toda pregação feita pela esquerda a favor da “frente ampla”, aqui também deixa-se de lado que o fato de que a direita tem seus próprios interesses, não está a serviço dos interesses do povo (nunca esteve e nunca estará) e da esquerda; ela pode até tirar Bolsonaro (se não puder controlá-lo em função dos seus interesses) mas será para impor o que eles querem, ou seja, um outro governo Bolsonaro, sem Bolsonaro.

Essa posição, como toda a politica de “unidade” defendida em torno da crise, por setores da esquerda, significa que os trabalhadores e suas organizações, a esquerda, deveriam abandonar a luta por seus próprios interesses, pelos interesses da maioria produtiva do País e se subordinar, política e organizativamente, aos interesses da burguesia golpista. Nada de lutas de classes. Nada de lutar pelo “Fora Bolsonaro”, nada de desmascarar e derrubar os governos reacionários de Dória, Witzel, Zema, Ratinho Jr etc. etc. a saída seria a “união” – também pregada pela direita – dos escravos com os escravocratas, dos milhões na fila do Bolsa-família com os banqueiros, da burguesia com o proletariado.

Isso quando, mais do que nunca, os explorados e a esquerda precisam ter uma posição independente diante da crise, o que só possível por meio de um programa próprio de defesa dos interesses do povo trabalhador contra a burguesia, que para ser imposto necessita da mobilização popular contra Bolsonaro e toda a direita.
Esta política reacionária está deixando a maioria da esquerda e o conjunto das organizações do explorados, sem qualquer iniciativa própria diante da crise que ameaça a vida de milhões de brasileiros, seja pelas consequências direta da pandemia na vida dos trabalhadores, seja pelo avanço da crise econômica (demissões em massa, desemprego etc.). No máximo protestos verbais contra Bolsonaro e apresentação de propostas que dependeriam do consenso com a burguesia e suas máfias políticas para serem aprovadas.

 

Frente = capitulação

 

Cruvinel fala de uma “esquerda, dividida e debilitada”, mas não propõe uma solução nos marcos da própria esquerda. Não propõe, por exemplo – como faz o PCO- , que as organizações dos trabalhadores se reunam, de forma ampla e democrática, e deliberem um programa e um plano de lutas contra a política dos dirigentes das alas da direita que em comum, são responsáveis pela situação atual e querem que os trabalhadores paguem pela crise. Apenas decreta que “não haverá afastamento de Bolsonaro se não houver aliança com o centro e com setores de direita não-bolsonaristas”, quando já está por demais evidente que setores da “direita não-bolsonarista” e até “bolsonaristas” (como militares que participaram do golpe, da fraude pró-Bolsonaro e do seu governo) estão cada vez mais debatendo uma “saída” com ou sem Bolsonaro, contra os interesses do povo.

Se a esquerda ficar a reboque da direita, o que vai acontecer é que a direita vai ditar toda a política, diante da falência do governo Bolsonaro e do regime golpista que as diferentes alas da burguesia golpista construíram sobre a base da derrota da esquerda e do povo brasileiro.

Isso, de modo algum, representará uma vitória, mas uma subordinação. Não haverá frente, mas sim apoio à direita e à sua política.

A autora afirma ainda que “não se trata de frente para disputar eleições ou para compor um eventual futuro governo”, embora não descarte isso (como muitos setores da esquerda), quando afirma que “o futuro está lá adiante, depois de passarmos pela grande provação da pandemia” e afirma que “trata-se de uma frente democrática para livrar o país de um presidente que se  tornou um perigo para o país”, com o que reafirma que ele não era um perigo quando (junto com a “direita não-bolsonarista”) agiu contra o povo trabalhador, os miseráveis do Bolsa-família, os serviços públicos, a economia nacional etc.

No afã de ver concretizado tal frente sugere “uma denúncia contra Bolsonaro por crime comum” que poderia “ser apresentada ao STF, que por sua vez pode encaminhá-la imediatamente à Câmara, pedindo a licença para o processar, como fez no caso de Temer.  Se a Câmara concede a licença, o presidente é imediatamente afastado, até que o julgamento ocorra”.

Como toda a esquerda, defensora da frente ampla, desconsidera a possibilidade de mobilização popular e da derrota pelo governo Bolsonaro e de todos os golpistas por meio da luta do povo, da força da sua mobilização. Abre assim, como já ocorreu em outras oportunidades, a possibilidade de que as organizações dos trabalhadores se coloquem à serviço da salvação do regime golpista que ameaça desmoronar, apoiando uma de suas alas em crise, ao invés de apontar na direção de uma saída própria dos trabalhadores diante da crise.

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