A defesa da aliança entre a esquerda bem comportada e a direita “civilizada” é uma constante nos jornais burgueses, que apoiaram o golpe de Estado em 2016. A tônica é a pretensa defesa da “democracia” contra a barbárie bolsonarista. Além de editoriais, e espaço a políticos defensores da frente ampla, a imprensa abre as páginas dos seus jornais para intelectuais alinhados com a perspectiva de subordinação da esquerda à direita.
O ex-ministro da Educação do governo Dilma Rousseff e filosofo Renato Janine Ribeiro escreveu um artigo na revista Piauí (Folha) intitulado “Diálogos urgentes”, em que coloca em destaque: “Para livrar o Brasil da barbárie, direita e esquerda precisam conversar e, juntas, ir ao encontro dos eleitores não fanáticos de Bolsonaro”.
O grande eixo apresentado por Renato Janine é a defesa de que a esquerda deveria perdoar a direita que deu o golpe em 2016, e ainda buscar os apoiadores “não fanáticos” de Bolsonaro. Essa visão representa uma completa capitulação diante dos setores burgueses fundamentais do regime político.
“A primeira é saber como estabelecer um diálogo do campo democrático com a metade dos bolsonaristas não radicais, reunindo-os a uma frente ampla de oposição ao governo. A outra questão é saber se existe, realmente, alguma disposição da parte dos que rejeitam Bolsonaro a formar uma frente oposicionista, o que implicaria, necessariamente, estabelecer um diálogo entre a esquerda e a direita. “
O “diálogo” no “campo democrático” deveria incluir não somente os setores oposicionistas do governo, mas os bolsonaristas “não radicais”. Na medida em que nas últimas semanas o próprio presidente Jair Bolsonaro tem procurado, pelo menos no discurso, se apresentar como menos “radical”, caberia até mesmo uma versão mais “light” do próprio Bolsonaro.
A frente ampla proposta por Renato Janine visa “unificar” a esquerda com a direita, mas ampliando ainda mais para setores “não radicais” da extrema direita, mas como Bolsonaro estaria “crescendo”, seria preciso incorporar na frente os bolsonaristas arrependidos, afinal segundo o filósofo “O arrependimento é uma manifestação de dignidade”. Acontece, que essa perspectiva política é nada mais nada menos do que uma subordinação completa da esquerda à direita tradicional e os setores desgarrados do bolsonarismo.