Nessa semana, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) participou da gravação de um programa junto com a deputada estadual Janaína Paschoal (PSL-SP), transmitido pelo canal do YouTube “Quebrando o Tabu”. No programa, chamado de “Fura Bolha”, Freixo e Paschoal discutiram uma série de perguntas enviadas pela produção.
Durante a entrevista, Freixo e Paschoal trocaram elogios um ao outro e mostraram concordância em uma série de questões. Logo de início, ambos se posicionaram contra a polarização política existente no país hoje. Segundo Freixo, haveria hoje um alto grau de “fanatismo” na política, que seria algo ruim para a “democracia”. Paschoal concordou.
A crítica à polarização política é um serviço que os deputados estão prestando para a burguesia. A polarização é o resultado do deslocamento das massas para a esquerda, que obriga à burguesia a se organizar para combater as tendências revolucionárias da população, impulsionando assim a extrema-direita. Ao combater a polarização política, Freixo e Paschoal estão defendendo que a situação política se encaminhe para uma estabilidade, de modo que a burguesia possa continuar atacando os trabalhadores sem enfrentar qualquer reação organizada.
Que Janaína Paschoal defenda uma política menos “radical”, é algo até esperado. Mesmo sendo de um partido que serve de guarda-chuvas para a extrema-direita brasileira, Paschoal é uma defensora dos interesses da burguesia – e, para a burguesia, nesse momento de crise, a polarização política não deveria se intensificar. Já para uma pessoa que se diz de esquerda, como Freixo, combater a polarização política significa submeter os trabalhadores aos interesses da direita.
Na tentativa de defender sua política centrista, Freixo declara que a política seria a arte do comum, do entendimento, do diálogo. Como exemplo, cita dois elementos da extrema-direita com quem admite manter “diálogo”: Alexandre Frota e Kim Kataguiri. A própria aparição de Freixo em uma entrevista com Janaína Paschoal revela o tipo de “diálogo” que o psolista defende: Paschoal foi uma das principais defensoras do impeachment da presidenta Dilma Rousseff, que foi um episódio decisivo para o golpe de Estado de 2016. Paschoal, inclusive, foi uma das autoras do pedido de impeachment.
Ao argumentar sua posição contrária à polarização política, Janaína Paschoal falou que era um absurdo ter sua opinião desconsiderada por defender o aborto. Afinal, independentemente de o movimento de mulheres inteiro ser a favor ou não do aborto, a opinião não deveria ser motivo de nenhum ataque. Surpreendentemente, Freixo, que baseia parte considerável de sua atuação parlamentar na demagogia com o movimento de mulheres, não saiu em defesa do direito ao aborto: apenas falou que as queixas de Janaína Paschoal eram legítimas. Como se não bastasse qualificar a política reacionária de Paschoal como legítima, Freixo ainda falou o seguinte acerca da deputada: “é uma pessoa de personalidade forte, mas com capacidade de diálogo”.
No meio da entrevista, Freixo e Paschoal travaram uma discussão sobre o armamento. Freixo, como de outras vezes, não teve pudor algum em dizer que o monopólio da força deveria ser unicamente dado ao Estado burguês – isto é, o Estado que é dominado pelos parasitas que deram o golpe de 2016 e prenderam o ex-presidente Lula. Além de defender os interesses da burguesia, que quer manter a população desarmada para que seja incapaz de reagir aos ataques que virão com o governo Bolsonaro, Freixo assumiu o papel ridículo de tentar convencer Janaína Paschoal, com dados, de que ela deveria abandonar determinada posição em relação ao armamento.
A tentativa de Freixo convencer a deputada é mais um imenso desserviço que o deputado psolista presta ao movimento contra o golpe. Ao considerar que a política seja baseada simplesmente em convencer os políticos burgueses a adotar posições progressistas, Freixo ignora tudo o que vem acontecendo nos últimos anos no Brasil: a presidenta eleita foi destituída por um golpe orquestrado pelos Estados Unidos, o maior líder popular do país foi preso sob chantagem das Forças Armadas e um presidente com características fascistas foi imposto por meio de uma manobra dada por todas as instituições do país.
Para todos aqueles que se colocam ao lado dos trabalhadores, é preciso abandonar qualquer política de colaboração com os golpistas. O regime político se encontra em uma crise profunda, e é esse tipo de posição vacilante que está impedindo que o povo ponha abaixo o governo Bolsonaro. Fora Bolsonaro e todos os golpistas! Liberdade para Lula! Eleições gerais já!