De acordo com o jornal Brasil de Fato, o deputado federal Marcelo Freixo (PSOL-RJ) teria dito que o ministro da Justiça Sérgio Moro “trata as milícias de forma superficial”. O argumento que o psolista apresenta, no entanto, é que não se pode equiparar as milícias às facções de narcotraficantes”, pois “não se enfrenta milícia da mesma forma que se combate o tráfico de drogas, são organizações distintas”.
Essas declarações de Marcelo Freixo revelam claramente qual é a política da esquerda pequeno-burguesa para o governo Bolsonaro. Para Freixo, o problema central não é organizar os trabalhadores para derrubar imediatamente o governo ilegítimo e entreguista, mas sim procurar “convencer” os bolsonaristas a adotarem um programa menos avassalador.
Há alguns dias, Freixo já havia cometido um grave erro na luta política contra a extrema-direta, quando decidiu entregar a CPI das Milícias, comandada por ele, nas mãos de Sérgio Moro. Na ocasião, Freixo ainda declarou que estava aberto ao diálogo com o ministro bolsonarista.
Entregar a CPI nas mãos de Sérgio Moro é um grave erro porque as milícias são compostas justamente por bolsonaristas, e Sérgio Moro é um dos mais eminentes bolsonaristas. Desse modo, colaborar com Moro, além de ser ineficiente, confunde os setores que acompanham a situação política e querem enfrentar o governo ilegítimo.
Nas declarações mais recentes sobre Sérgio Moro, o deputado psolista presta mais um desserviço à luta contra o golpe. Afinal, as críticas feitas a Moro aparecem como algo de caráter técnico – isto é, Moro trata o problema das milícias de maneira inadequada porque não teria competência, e não porque é parte de um governo montado para massacrar a população impunemente.
Outra declaração de Freixo publicada pelo Brasil de Fato que também chama bastante atenção é a de que boa parte das medidas propostas pelo deputado psolista para combater as milícias “poderia ser aplicada pelo Ministério da Justiça”. Ou seja, para Freixo, há uma esperança de que o ministro do governo Bolsonaro atenda seus clamores e mude sua política para a Segurança Pública.
Se várias figuras do governo Bolsonaro eram completamente desconhecidas antes da vitória eleitoral da extrema-direta, como é o caso do ministro da Educação Ricardo Vélez ou do ministro das relações exteriores Ernesto Araújo, o ministro da Justiça Sérgio Moro já é conhecido de longas datas por todo o movimento de luta contra o golpe. Foi Moro, enquanto juiz de primeira instância, que condenou o maior líder popular do país sem qualquer prova, ordenou sua prisão antes de concluir o seu julgamento e ainda militou ativamente para que o regime político comportasse uma série de leis antidemocráticas.
Muito mais do que os discursos desconexos da ministra Damares, as atitudes de Moro desde 2014 contribuíram significativamente para que o golpe de Estado de 2016 fosse dado e se aprofundadasse. Por isso, é impossível não saber que Moro é um elemento fundamental para a extrema-direta brasileira – e, portanto, do bolsonarismo. Esperar que Moro trabalhe para a população é o mesmo que pedir aos trabalhadores fiquem em casa enquanto Bolsonaro “resolve a situação”.
Essa estratégia parlamentar covarde e criminosa não contribuirá para que a luta contra o governo Bolsonaro avance. É necessário romper todas as ligações com os políticos e os partidos do regime político e organizar um verdadeiro movimento de luta contra o governo ilegítimo. Fora Bolsonaro e todos os golpistas!