A desistência do deputado federal Marcelo Freixo para a disputa para a Prefeitura do Rio de Janeiro, como era de se esperar, teve uma enorme repercussão, e provocou dezenas de comentários nas redes sociais. Em geral, as críticas ou manifestações de aprovações ao posicionamento do deputado do PSOL são indicações não somente do significado do gesto de Freixo, como serve para iluminar os posicionamentos das forças políticas na atual conjuntura.
A candidatura de Marcelo Freixo não representava nem de longe, uma candidatura combativa nem uma verdadeira alternativa de esquerda no Rio de Janeiro. Entretanto, a retirada da sua candidatura indica ao mesmo tempo, o fracasso da política eleitoralista do PSOL e uma profunda capitulação inclusive no terreno eleitoral dessa esquerda parlamentar.
Desde o término das eleições de 2016, quando o candidato Freixo perdeu o segundo turno para o prefeito eleito Crivella, que o PSOL faz uma intensa campanha antecipada de uma nova candidatura Freixo para uma nova disputa em 2020. Durante esses quatro anos, cada acontecimento na cidade do Rio de Janeiro, em especial os equívocos do prefeito foram ligados a campanha eleitoral que viria. A medida que o tempo foi passando e a esquerda institucional embarcou na política de frente ampla com a burguesia, o PSOL que se apresentava como contrário as alianças, inclusive com partidos como PT e PCdoB, passou a defender, especialmente no Rio de Janeiro, a frente ampla, e a necessidade da “ unidade” em torno do seu candidato Marcelo Freixo. Agora no ano eleitoral, mesmo apresentando índices altos nas pesquisas eleitorais, Freixo desiste da sua candidatura, a justificativa foi a ausência de “uma unidade dos partidos progressistas contra o fascismo”.
Os comentários críticos à desistência proferidos por Miguel do Rosário editor do blog O cafezinho são reveladores dos contornos da política da frente ampla, e que levaram a fragmentação das candidaturas de “ esquerda” no Rio de janeiro. Para Miguel do Rosário um dos erros de Marcelo Freixo foi acredita-se candidato “ natural” e em segundo lugar acreditar que a frente contra o fascismo precisaria unir todos no primeiro turno, sendo que o mais problemático, segundo Rosário seria o fato do PSOL apresentar a coligação inicial com o PT como base fundamental para uma coligação mais ampla.
E qual seria o problema? Para o cafezinho a coligação com o PT transforma o PSOL em uma sublegenda da política do PT. Sendo que o PT teria uma “alta rejeição no Rio”. Para “derrotar o fascismo seria fundamental uma “candidatura deslocada do PT, uma candidatura mais leve” que outras forças políticas conseguiram melhor resultado sem o PT, pois “ o antipetismo no Rio de janeiro não é de direita, mas pelo contrário é democrático” (https://www.ocafezinho.com/2020/05/17/os-erros-politicos-de-marcelo-freixo/)
Antes de analisarmos se são justas ou não a apreciação de Miguel do Rosário sobre os erros de Marcelo Freixo, é necessário previamente indicar, que O Cafezinho é tão somente um veículo contratado por Ciro Gomes para traficar na esquerda posições pró- Ciro e antipetistas.
Neste sentido, quando Miguel do Rosário questiona a vantagem da aliança com PT em torno de Marcelo Freixo, isso está em sintonia com o eixo político perseguido por Ciro Gomes, de escolher o PT como principal adversário, visando a constituição de um agrupamento de “ centro-esquerda” alternativo, que se expressa nas movimentações conjuntas do PDT com a Rede, PSB e com a Cidadania( ex-PPS) uma sublegenda do PSDB. O Objetivo dessa operação é o sequestro do capital eleitoral do PT, e de Lula em particular.
No Rio de Janeiro, apesar dos esforços de Marcelo Freixo e da maioria do PSOL em torno da “unidade”, o lançamento de diversas candidaturas do “ campo progressista”, em especial da candidatura do deputado Alessandro Molon do PSB, impulsionado por Ciro Gomes levou a quebra da “ frente ampla”. A desistência de Marcelo Freixo vincula-se a percepção dessa movimentação do PDT/PSB, que quebrou as articulações em torno do candidato do PSOL. Por sua vez, as críticas dentro do PSOL a aliança com o PT e a completa falta de iniciativa do PCdoB pela “ frente ampla” no Rio de janeiro, mesmo sendo o maior defensor da frente ampla no Brasil são aspectos complementares, vinculados a ofensiva de um setor da burguesia em torno de Ciro Gomes para obter um posicionamento importante no cenário político.