Desde a intervenção militar no Rio de Janeiro, as denúncias de tortura e morte causada por militares cresceram exponencialmente. Mesmo cobrindo cada um dos casos e os relatos das torturas, fica difícil manter a contagem do número de pessoas que sofreu com a violência do Exército. Já está claro que a intervenção militar tinha como objetivo espalhar o terror entre os trabalhadores que moram nas regiões mais pobres da cidade maravilhosa.
A maior parte das denúncias de tortura segue um roteiro parecido. Pessoas humildes, presas em operações na periferia da cidade são levadas para a Vila Militar onde são torturados e depois apresentados a polícia e presos. A maioria dos relatos cita uma “sala vermelha” na Vila Militar que seria especialmente preparada para a tortura.
Por enquanto, 11 pessoas relatam terem sido torturados após serem presos, durante operações da intervenção militar no Complexo de favelas da Penha, na Zona Norte do Rio de Janeiro. Além disso, sete pessoas afirmam, em depoimentos prestados em três ocasiões diferentes, que foram espancadas com pedaços de madeira e levaram chicotadas com fios elétricos dentro da “sala vermelha” na 1ª Divisão de Exército, na Vila Militar. Soma-se a isso o fato das lesões relatadas pelos presos terem sido ratificadas por exames médicos feitos durante audiência de custódia.
O último caso de tortura que ganhou repercussão foi denunciado, novamente, no dia 5 de fevereiro deste ano. Jeferson Marconi, Marcos do Nascimento e Ricardo Glória denunciaram desde a audiência de custódia o roteiro das torturas e maus tratos. No dia 5 de fevereiro, eles afirmaram novamente os fato em audiência no Tribunal de Justiça do Rio.
“Eles me colocaram numa cadeira, virado para a parede, e começaram a fazer perguntas. Achavam que, só porque moro lá, sou obrigado a saber de tudo. Como não sabia, me batiam com uma ripa nas costas e na cabeça. Me fizeram comer papel. Perguntaram que gosto tem. Eu disse ‘‘nenhum’’. Depois botaram spray de pimenta no papel e mandavam eu comer. Depois falavam: “agora tem gosto, né! Responde o que a gente quer”. Disse Jefferson, durante a audiência.
Os homens também alegam que trechos dos seus depoimentos que detalhavam o roteiro da tortura foram suprimidos da versão final do dos depoimentos.
Nesta semana, surgiu uma novidade sobre os casos. Um inquérito do Exército que “investigava” as denúncias foi concluído. Como já poderíamos esperar, ainda que as provas sejam muitas, o Exército concluiu que não há provas de tortura em quartel. O Coronel Eduardo Tavares Martins, responsável pela investigação, disse o que: “não enxerga na conduta dos militares os elementares integrativos do delito de tortura e maus tratos, tudo não passando da dinâmica de confronto entre supostos traficantes e militares do Exército”.
Inicialmente, o Exército havia se recusado a abrir qualquer investigação sobre o fato. Entretanto, agora parece claro que essa investigação foi, na verdade, uma queima de arquivos e provas com direito a intimidação dos torturados. Vemos que a cúpula militar trabalha intensamente para encobrir as atrocidades feitas pela tropa.