Nesta última semana o povo africano sofreu mais uma ameaça de ataque covarde em meio à pandemia do coronavírus. Denunciado publicamente por jogadores de futebol, Samuel Eto’o, Didier Drogba e Demba Ba (veja aqui), em que dois médicos franceses, enquanto discutiam formas de combater o coronavírus utilizando a vacina BCG, sugeriram a utilização do povo africano como cobaia para o experimento.
O episódio é simplesmente repugnante, e gerou grande repercussão nas redes sociais e mensagens de revolta de pessoas pelo mundo. Entretanto, antes que o episódio seja tratado como uma simples atitude racista de duas pessoas e saia do “radar” das redes sociais e seja esquecido como mais um entre tantos outros casos de ataques ao povo africano, é preciso expor e denunciar à fundo as raízes do problema.
O continente Africano é há centenas de anos duramente explorado pelas potências imperialistas. Se em séculos anteriores a política colonial de controle direto do território via ocupação militar era a ferramenta utilizada, na atual fase do capitalismo monopolista e imperialista a política colonial permanece atuando de forma indireta controlando governos, a economia e mantendo a exploração da população.
A sugestão dos médicos para o experimento, por exemplo, não caiu do céu, deixa evidente uma prática regular dos monopólios da indústria farmacêutica, que nem sempre chega a conhecimento público. A de utilizar seres humanos como cobaias para experimentos com medicamentos, vacinas e, até, patógenos para utilização em conflitos, as chamadas armas biológicas. Como o experimento promovido pela Pfizer em 1996 na Nigéria em que testou um medicamento chamado Trovan em 200 crianças durante um surto de meningite, sem o consentimento dos pais, e vitimou a maioria delas a cegueira, surdez, paralisia e com a morte. Matando também adultos em 1997. Em 1998 outro experimento realizado em diversos países africanos com o medicamento AZT, utilizou cerca de 17 mil mulheres grávidas portadoras de HIV, sendo que foram divididas em 2 grupos, um dos grupos recebeu o medicamento e o outro não, recebeu placebo. Sendo que para a finalidade do teste, a aplicação em curto período do AZT vitimou também 50% das crianças do grupo que recebeu o medicamento. Uma atrocidade justificada pelos pesquisadores “…é possível não aceitar as normas que constam na Declaração Helsinque por se tratar de comunidades pobres, sem condições de ministrar assistência à população, cujos governos se manifestam favoráveis à realização das mesmas”.
São inúmeros casos em que há registros, pelo menos, desde o século XIX. A questão fundamental aqui é a prática desumana e completamente não civilizada da burguesia imperialista, responsável por duas guerras mundiais com cerca de 80 milhões de mortos, inúmeros massacres e genocídios, a criação e manutenção de guerras em todos os continentes, muitas delas que duram décadas.
Muitos destes episódios tem o povo africano como vítima direta. A colonização das potências europeias ocorridas no século XIX, gerou centenas de massacres, tanto nas ocupações, como nas guerras de independência, travadas pelos povos subjugados visando expulsar o invasor, como posteriormente guerras civis e massacres promovidos indiretamente, jogando etnias umas contra as outras. Como foi o caso do massacre em Ruanda, explorado e alimentado pelos belgas e franceses principalmente. As atrocidades cometidas pelo no Congo pelo Rei Leopoldo II em que obrigava a população a trabalhos forçados e como punição mutilou milhões de pessoas. O genocídio provocado pela Alemanha na Namíbia que causou a morte de cerca de 75 mil pessoas das etnias Namaquas e Heroros. O Massacre de 45 mil argelinos promovido pelos franceses que lutavam pela independência da nação, são apenas alguns casos.
As potencias imperialistas (França, EUA, Inglaterra, Alemanha, Espanha, Itália etc) atuam sobre o continente africano explorando de forma brutal seu povo e seu patrimônio, impedindo o seu desenvolvimento econômico. Somente a luta política organizada e consequente, que conduza a classe trabalhadora africana a tomar o poder em seus países pode pôr fim à dominação colonial.