Como se sabe, o governo de Mauricio Macri na Argentina é o equivalente – na conjuntura internacional – ao governo golpista de Michel Temer no Brasil. Seria como se Aécio Neves houvesse vencido as eleições em 2014: a mesma política chamada de “austeridade”, que nada mais é que colocar o Estado nacional a serviço do pagamento de juros a especuladores internacionais do sistema financeiro.
Antes do Brasil, a Argentina já havia adotado o mesmo receituário de austeridade. Corte de gastos por meio de supressão de serviços sociais, ataque ao estado e ao funcionalismo, privatização generalizada, ataque aos direitos da população em geral: para os banqueiros, tudo, para a população do país, nada. É o receituário neoliberal típico, recomendado pelo Fundo Monetário Internacional e pelo Banco Mundial desde a década de 1970.
O corte de investimentos do Estado evidentemente prejudica o consumo. A subordinação aos banqueiros mina o setor produtivo. O resultado clássico – já verificado em todo o mundo – é uma forte crise cambial provocada pela facilidade com que os especuladores internacionais tiram dinheiro do país, e isso força os Estados nacionais a afundar-se em dívidas com nada menos que o próprio FMI. Na Argentina não tem sido diferente. O país está mergulhado numa forte crise cambial desde maio.
A solução do governo Macri é um plano para aplicar aos argentinos o mesmo “remédio” que Michel Temer et caterva aplicaram no Brasil nos primeiros dias do governo golpista: brutal reforma administrativa com demissões em massa e extinção indiscriminada de órgãos. Com o tempo – e possivelmente em pouco tempo – chegarão à solução da a Emenda Constitucional 95 – a PEC da morte: impor um novo regime fiscal, em que ficam congelados os gastos públicos com saúde, educação, salário de servidores, e fica assegurado o pagamento de juros aos especuladores estrangeiros. Com tal medida, “acalma-se” o mercado, e reduz-se a evasão de capital.
Esse remédio cura a doença matando o paciente. A crise argentina já vem achacando tão fortemente a população que produziu uma crescente onda de mobilizações dos trabalhadores exigindo a saída de Macri do governo. Com o recente anúncio do “pacote de austeridade”, destruindo o Estado argentino, os servidores públicos já estão nas ruas, tendo feito uma forte manifestação na última segunda (5).
Evidentemente, a imprensa golpista não noticia as convulsões sociais na Argentina nem a hecatombe econômica que as gerou. Afinal, seus “analistas” econômicos foram os grandes entusiastas da eleição de Macri e da política que o golpista argentino anunciava de antemão. São os mesmos “analistas” pródigos em “denunciar” a situação de penúria na Venezuela. Evidentemente, para essas figuras trêfegas, no caso da Venezuela a culpa não é do boicote imperialista à economia nacional, mas do governo de Nicolás Maduro. Espera-se que por um mínimo de coerência atribuam a culpa pela crise argentina a Mauricio Macri e seu gabinete direitista.