Em coluna publicada no sítio Brasil 247, intitulada “O PT não aprende”, do último dia 26 de fevereiro, o cientista político Aldo Fornazieri, critica a declaração do líder do PT no Senado, Rogério Carvalho, de que entraria com um pedido de impeachment de Bolsonaro. Critica também o deputado petista Paulo Pimenta por ter divulgado um vídeo convocando “impeachment já”.
O colunista se coloca contra qualquer tentativa, pelo menos para curto prazo, de derrubar Bolsonaro. Segundo ele, o PT pedir o impeachment “é dar argumentos à extrema-direita, abrindo o flanco para que seja acusado de golpista.” A justificativa é de uma infantilidade incrível. Ignora o elementar: quem foi derrubado por um golpe foi o PT e é esse golpe, em curso ainda hoje, que colocou Bolsonaro no poder.
Segundo a lógica de Fornazieri, seria preciso aguentar calado sabe-se lá até quando o golpe pois lutar contra o golpe, que obviamente só pode ser lutar para derrubar o governo golpista, seria uma espécie de golpismo. Estaríamos fadados a levar golpes e sofrer calados eternamente.
Ainda que se possa considerar a proposta de impeachment limitada e em grande medida uma armadilha para que a direita manobre por dentro das instituições caso o governo caia numa situação insustetável, o que Fornazieri defende é uma política de completa adaptação ao regime golpista.
O correto é partir para cima de Bolsonaro para derruba-lo nas ruas. Se isso for golpe, é apenas na medida em que o povo decidiu golpeá-lo. Mas comparar com a articulação direitista que derrubou Dilma é no mínimo uma má fé argumentativa e só serve para manter o governo Bolsonaro de pé.
O medo de Fornazieri na realidade esconde sua verdadeira política, que é a política da maior parte da esquerda pequeno-burguesa e que é a política da direita golpista tradicional, o chamado “centrão”. Fornazieri explica que Bolsonaro “precisa ser contido (…) Através de uma frente democrática informal em defesa da democracia e do Estado de Direito, com o leque de forças que vai do centro à esquerda; 2) Convocar atos de rua em defesa da democracia e de pautas concretas de interesse popular; 3) Convocar o general Heleno no Congresso para que preste conta de suas declarações golpistas; 4) Consolidar uma articulação de governadores em defesa da democracia e dos interesses dos estados.”
Em resumo, nosso autor quer uma frente com a direita golpista, com os governadores – a maioria golpista – para conter Bolsonaro. Ele ignora – ou finge ignorar – que foi o chamado “centro” político que ajudou a colocar Bolsonaro no poder. Ele ignora ainda que a “democracia” – ou o pouco que havia dela – foi demolida com a queda de Dilma cujo golpe o “centro” foi parte essencial. Ignora ainda que as instituições do regime, como o Congresso, estão dominadas pela direita.
Por isso, Fornazieri não quer nem mesmo o impeachment, muito menos convocar o povo para as ruas para derrubar Bolsonaro e os golpistas. Sua política é o “fica Bolsonaro”, é a sustentação do regime golpista.