As ameaças de Bolsonaro de demitir o ministro da Saúde, luiz Henrique Mandetta, colocou mais uma vez a esquerda pequeno-burguesa a reboque da direita. Isso porque a esquerda entrou na campanha do “fica Mandetta”, sob o pretexto de ser contra Bolsonaaro, acabou defendendo um elemento de extrema-direita tão fascista quanto o próprio presidente golpista.
O debate em torno da queda ou não de Mandetta se deu em relação à política da quarentena e isolamento social e expressou a contradição no interior da burguesia, de um lado Bolsonaro e de outro a direita tradicional. Embora ambos não tenham uma política real para combater a epidemia, o setor da direita tradicional apresenta a quarentena como uma medida superfical para fingir que combate alguma coisa. Já Bolsonaro, obedecendo sua base social de capitalistas menores, preocupados com os prejuízos, defende a volta ao normal nas cidades.
Como fica claro, o debate é uma armadilha. Em primeiro lugar porque nenhum dos lados oferece uma real solução para o problema. Tanto os governadores da direita tradicional como os bolsonaristas querem matar o povo de fome e de doença. Medidas efetivas simplesmente não existem e sequer estão nos planos da burguesia.
Em segundo lugar, o debate é uma armadilha pois até mesmo os grandes capitalistas sabem que não irão sustentar por muito tempo uma política de isolamento. Tanto é assim que já começam a aparecer até mesmo por parte dos que até agora defendiam a quarentena um afrouxamento da medida. Os principais jornais já apresentam esse afrouxamento, Mandetta admitiu essa possibilidade.
A tendência é que com o desenvolvimento da situação as duas alas da direita golpistas cheguem a um acordo sobre a política de isolamento social. O pronunciamento de Bolsonaro dessa quarta-feira (8) mostrou essa tendência. Ele voltou a defender o fim do isolamento, mas deixou a responsabilidade para os governadores.
A esquerda pequenp-burguesa que caiu no debate isolamento e quarentena versus voltar tudo ao normal caiu na armadilha e acabou se colocando completamente a reboque da direita tradicional.
O debate, no meio da esquerda, vai se tornando cada vez mais acadêmico, ou seja, sem um conteúdo real, concreto. Isso porque, enquanto a esquerda discute, a burguesia vai aos poucos retomando a situação que em grande medida ela mesma nunca levou ao extremo, afinal a maior parte dos setores industriais sequer pararam de trabalhar nem um momento sequer.
Por isso, a discussão sobre a queda ou não de Mandetta, dada sobre a base da política de isolamento é também acadêmica. O governo Bolsonaro continuará aí, com ou sem Mandetta, e o próprio ministro da Saúde, tão fascista quanto o presidente, deve seguir para um acordo.
A esquerda caiu na armadilha pois não tem e não apresenta uma política independente. Um programa de luta que chame o povo a se mobilizar para enfrentar a crise e não ficar a reboque de todos os setores da direita que preparam o genocídio do povo.