Nesta terça (8), em matéria publicada no diário Brasil 247, a editora do blog Socialista Morena, Cynara Menezes, defendeu Bolsonaro dos xingamentos da esquerda e do povo, sob o argumento de que ambos estariam se igualando à extrema direita ao expressar sua oposição ao governo com xingamentos.
A autora foca no debate da baixaria que seria xingar o presidente ilegítimo. Usa de uma questão secundária, que é cobrar etiqueta e “bons modos” do povo oprimido e esmagado, para se opor “a palavra de ordem mais presente na boca do povo: o fora Bolsonaro (vulgo Bolsonaro vai tomar no …). Para autora, fora Bolsonaro só com “etiqueta”.
“‘Bolsonaro merece ser xingado’, explicam. Ele merece, sem dúvida. Nós é que não merecemos decair tanto. A esquerda é maior do que isso. A esquerda é melhor do que isso.”
Bolsonaro merece ser xingado, a esquerda é que não deve xingá-lo. Em outras palavras, a esquerda não deve pedir fora Bolsonaro.
Em seguida, a “socialista morena” passa a atacar a população, que considera “bois caminhando para o matadouro” e “estátuas de sal bíblicas”. Para ela, a população não fez nada nos últimos anos a não ser passar a reproduzir o método da direita dos “xingamentos na política”.
Menezes afirma que prefere gritar “Lula Livre” do que xingar Bolsonaro e denuncia que lideranças dentro da própria esquerda tem procurado censurar a defesa da liberdade de Lula nas “parcas” manifestações da esquerda. Menezes está errada ao opor a palavra de ordem da defesa da liberdade de Lula (Lula Livre) ao fora Bolsonaro (Bolsonaro vai tomar no …). Não apenas uma coisa não exclui a outra, como ambas são as palavras de ordem mais ecoadas em todo o país, seja em atos, seja no carnaval, seja em festivais comerciais como Lollapalooza e Rock in Rio.
No final, Menezes mostra a concepção de Olavo de Carvalho, o guru da extrema direita, sobre a utilização dos xingamentos. Expõe que, para o mentor do bolsonarismo, o xingamento é uma forma de desmoralização dos adversários quando a crítica respeitosa pode reforçar a autoridade da pessoa criticada. Logo, para a autora, ao xingar Bolsonaro a esquerda e o povo estariam se rendendo aos métodos da extrema direita. Buscando ir pela positiva, citando a defesa da liberdade de Lula, a socialista cobra uma determinada ética da população e da esquerda, enquanto na prática se junta à política do fica Bolsonaro.
Trotski, quando os camponeses invadiram as mansões dos capitalistas russos, puseram fogo em obras de arte, fizeram coisas aterrorizantes, no começo do século passado e foram criticados pela burguesia (não pela esquerda, que tem um setor hoje, incluída Menezes, muito crítico da população) argumentou que “a burguesia, que não deu educação nos tempos de paz, não pode cobrar educação em tempos de guerra”. Trazendo para o Brasil de 2019: a burguesia brasileira, que nunca deu educação ao povo – mas apenas brutal exploração e golpes como o de 2016 – e a esquerda que defende o fica Bolsonaro, não podem cobrar educação em tempos de extrema direita fascista no poder.
Ficar contra a manifestação popular por se basear numa crítica a aspectos secundários, como a estética de determinados termos (o vai tomar no …) é uma unidade com os golpistas no que há de fundamental: a questão do poder político, da manutenção do governo.
O artigo evidencia que a luta dentro da esquerda hoje se dá entre o setor que defende o fora Bolsonaro (e todos os golpistas) e o setor que defende o fica Bolsonaro (esperar as próximas eleições). Como ficou provado historicamente a exemplo da revolução russa, é preciso defender e incentivar a manifestação popular, para que ela se desenvolva para um movimento de conjunto pela tomada do poder. No Brasil isso passa pela derrubada de todos os golpistas e pela liberdade de Lula e de todos os presos políticos.