O Esquerda Diário publicou uma matéria sobre a mobilização da esquerda na Argentina contra a presença de Bolsonaro no país. O Partido dos Trabalhadores Socialistas (PTS) (organização ligada ao MRT, movimento por trás do Esquerda Diário), o Partido Obrero e a Izquierda Socialista, juntos na Frente de Esquerda e dos Trabalhadores, organizaram um ato, segundo eles, contra a visita de Bolsonaro.
O diário louvou a iniciativa e acrescentou:
Se os trabalhadores brasileiros, junto à juventude, derrotam Bolsonaro, Maia e o STF derrubando a reforma da previdência, seria um enorme trunfo para os trabalhadores argentinos que enfrentam os ajustes do FMI, Macri e dos governadores (diante dos quais o kirchnerismo, aliado da Igreja, das burocracias sindicais e dos governadores do PJ não representa nenhuma alternativa, já que promete seguir subordinando-se ao FMI).
A interpretação dos fatos é no mínimo estranha, milhares de trabalhadores teriam ido às ruas somente para protestar contra a visita (como diversas vezes mencionado) de Bolsonaro e não a ameaça que ele representa. Mas logo entendemos quando lemos o paragrafo acima reproduzido. Trata-se mais uma vez de abstenção do problema do “Fora Bolsonaro”. Na matéria do ED, o MRT escreve como se a única preocupação dos brasileiros fosse barrar a reforma da previdência, e não que existe uma tendência nacional pedindo para que Bolsonaro saia da presidência.
A linha política do ED aponta para a falácia de que se Bolsonaro sair, entraria o Mourão, portanto é uma loucura pedir pelo Fora Bolsonaro, desconsiderando a prerrogativa das eleições gerais. Já foi constatado que trata-se de fato de uma capitulação da esquerda pequeno-burguesa que pediu incansavelmente pelo Fora Temer, mas agora não ousa bater de frente com o governo e fica a reboque das iniciativas do centrão.
Por isso, a problemática é apresentada sem muita lógica; lutar contra toda a pauta de Bolsonaro sem pedir para que ele saia do governo. Para sustentar essa tese, os fatos são apresentados de ponta cabeça: a população brasileira quer uma luta puramente econômica, e os trabalhadores argentinos só se incomodaram com a visita de Bolsonaro e não com a agenda neoliberal que ele e Macri representam.
Ao que tudo indica, ainda vai demorar para que as lideranças brasileiras entendam que estamos em meio a um golpe, e tentar negociar com o centrão um lugar ao sol em uma possível saída institucional para o problema, é no momento inviável. O mesmo vale para as direções argentinas, que não levantaram o Fora Macri no devido momento e agora o levantam timidamente, mesmo após o presidente argentino ter deixado o país de joelhos para os banqueiros internacionais.