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Submissão

Dívida argentina impagável leva Alberto Fernández à Europa

Em meio a cenário de terra arrasada produzida, Macri endividou Argentina até colocar o país vizinho de joelhos para o imperialismo

Por Tiago Carneiro, correspondente em Luxemburgo

Mergulhada em crise e com parcelas de uma dívida externa impagável vencendo, em meio a uma economia atingida por anos de destruição neoliberal do governo Macri e ainda sofrendo os efeitos da pandemia há mais de um ano, Alberto Fernandes viajou, na segunda semana de maio, à Europa acompanhado de seu ministro de economia, Martín Guzmán, em uma tentativa de renegociar a dívida do país com o FMI e o Clube de Paris. “Queremos chegar a um acordo o mais rápido possível, embora não possamos pensar em um acordo que exija maiores esforços do povo argentino”, declarou Fernández.

Foram visitados Portugal, Espanha, Itália e França. O resultado direto dessa visita foi que Portugal, Itália, França e o Papa Francisco deram apoio ao país sul americano para renegociar sua dívida com o FMI. No que diz respeito à etapa mais importante dessa viagem, a conversa com a diretoria do FMI, Fernández apenas apontou que “tivemos um diálogo franco onde expressamos nossa disposição para resolver o problema da dívida. A vocação é encontrar um acordo no curto prazo” (Brasil de Fato, 14/05/2021).

Segundo reportagem publicada pelo canal France 24 no dia 14 de maio, o presidente argentino declarou que alcançou todos os objetivos que tinha em mente. Entretanto, como ressalta a reportagem, não se sabe ainda a posição do FMI. A diretora do Fundo, Kristalina Georgieva, apenas declarou que “a reunião foi construtiva e que as equipes técnicas seguirão trabalhando para chegar a um acordo”.

Aparentemente, o resultado foi melhor no que diz respeito aos empréstimos tomados com o Clube de Paris. Apesar da dívida argentina com esse fundo de credores ser em sua maior parte com a Alemanha, espera-se que o apoio direto do presidente francês, Emmanuel Macron, possa ajudar a Argentina a renegociar a sua dívida.

Ao fim do governo neoliberal de Mauricio Macri, na Argentina, a economia estava em frangalhos. A taxa de pobreza da população saltou de 29 para 40 por cento, a inflação atingiu alarmantes 53%. Além disso, o país viu suas reservas cambiais despencaram para tentar parar a desvalorização do peso. O único objetivo de Macri ao fim de seu mandato era evitar uma catástrofe econômica.

Entretanto, o ex-presidente argentino tentou justificar o desastre dizendo que “as reformas ainda não surtiram o efeito esperado”.  Nesse cenário de terra arrasada, Macri contraiu empréstimos de 57 bilhões de dólares do Fundo Monetário Internacional, dos quais recebeu 44 bilhões, além de 2,4 bilhões de dólares oriundos do Clube de Paris. 

O peronista Alberto Fernández tomou posse em dezembro de 2019. Além de receber do seu antecessor uma Argentina economicamente devastada, ele ainda recebeu o seguinte “presente de grego”: o país sul americano precisa pagar ao FMI 3,5 bilhões de dólares em 2021, 18 bilhões em 2022 e 19 bilhões em 2023.

Após as eleições, representantes do FMI entraram em contato com o recém-eleito Fernández, sugerindo mais “ajustes” para manter a “viabilidade fiscal” da Argentina. Ou seja, o FMI quer que o atual governo continue a expropriar a população para destinar recursos aos banqueiros internacionais. Por sua vez, o atual presidente declarou que a Argentina não faria mais tais “ajustes” (El País, 21/11/2019). 

Cerca de três meses após a posse de Fernández, o mundo se viu em meio à pandemia de coronavírus, agravando ainda mais a já combalida situação econômica da Argentina. O PIB do país chegou a cair 19% no último trimestre de 2020, um tiro de misericórdia recebido por uma economia já destruída. A pandemia acabou com diversas empresas, como comércios, bares, restaurantes e academias. É importante salientar que, como o país não consegue renegociar suas dívidas, a Argentina financiou a paralisação econômica com impressão de moeda em um ritmo tão frenético que precisou importar impressoras de outros países.

Ocorre que essa política pressionou ainda mais a inflação (Valor Econômico, 20/02/2020), que segundo o Instituto Nacional de Estatistica e Censos (Indec), atingiu 4,1% apenas no mês de abril, chegando a 17,6% no acumulado do ano. A título de comparação, o Índice Nacional de Preços ao Consumidor (INPC), indica alta acumulada  de 2,35% no ano para os trabalhadores brasileiros.

No começo de seu governo, mesmo sob os efeitos da pandemia, Alberto Fernández deu alguns passos no sentido de organizar as dívidas do país. Por exemplo, 99% da dívida argentina foi contratada junto a credores privados. Na prática, isso significa que os juros de uma dívida de 68 bilhões de dólares, que tinha juros de 7% ao ano, serão substituídos por juros de 3,07% ao ano, representando uma economia de 37 bilhões de dólares (El País, 01/09/2020). 

Entretanto, é a dívida com o FMI que preocupa a Argentina. O atual presidente declarou: “Que possibilidade nós temos de pagar 18 bilhões no ano que vem? Nenhuma. Já nos custa muito pensar em pagar 3,5 bilhões este ano, mais 2,5 bilhões ao Clube de Paris” que vencem em 2021, lembrou o presidente (Exame, 28/03/2021). Por sua vez, a vice-presidente da Argentina, Cristina Kirchner, declarou que “não podemos pagar porque não temos dinheiro para pagar” (Veja, 25/03/2021).

Não devemos esquecer que a devastação econômica promovida por Macri não se deve a uma suposta inépcia do ex-presidente mas dos interesses que prevaleciam sob sua política, que tinha como principal beneficiário justamente o imperialismo, que hoje submete a nação argentina por meio de uma dívida que não existiria sem os ataques anteriores. Essa dívida, assim como todas as dívidas das nações atrasadas de conjunto, é imoral e não deve ser paga.

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