Em artigo intitulado “PT e a polarização fake”, o colunista do Brasil 247, Florestan Fernandes Jr., afirma que a tese de que o Partidos dos Trabalhadores (PT) está polarizando é errada. “Não existe polarização – afirma o autor – existe, sim, o Lula de volta à oposição fazendo ao lado de seus companheiros o embate de ideias.” E continua: “As especulações sobre a radicalização da política por conta da liberdade de Lula é pura manipulação.”
Segundo ele, o PT não estaria polarizando porque o partido é “uma legenda de centro-esquerda nos moldes dos partidos socialistas da Europa” e Lula é “um grande líder reformista. Seu discurso foi e continua sendo o da conciliação.”
O primeiro erro da matéria se encontra no fato de que o autor procura esconder a realidade, quando afirma que “não existe polarização”. Ora, claramente, ela existe. Isso ficou comprovado pelas eleições de 2018. A polarização significa que o centro político burguês está se desagregando, isto é, as formas tradicionais de dominação política da burguesia já não servem mais, levando a posições mais radicalizadas das classes sociais em luta. Em outras palavras, significa que a conciliação que permite a dominação do centro já não é mais viável, pois as contradições entre as classes estão se acirrando.
Nas eleições de 2018, isso ficou muito claro. Por exemplo, o PSDB, que é um partido tradicional da burguesia, teve uma votação ínfima, perdendo espaço para a extrema-direita, representada por Bolsonaro. O PSL conseguiu a segunda maior bancada da Câmara de Deputados, atrás apenas do PT.
Já a popularidade de Lula e o PT, ao mesmo tempo, vinha (e ainda está) crescendo exponencialmente, pois a população vê no dirigente e no partido o repúdio ao golpe de Estado e à direita. Ou seja, cresce a esquerda e a direita. O crescimento do Partido da Causa Operária (PCO) como partido importante da cena política também é um fator que demonstra a polarização crescente no Brasil. E a necessidade da burguesia de dar um golpe para derrubar um governo também. Portanto, não dá para negar que a polarização existe e é crescente.
Outro erro do artigo do sociólogo é o de acreditar que “um grande líder reformista” com o discurso da “conciliação” não poderia ser um fator de polarização. A polarização, todavia, não depende de Lula e de sua política de conciliação. Lula cresce à medida que o repúdio ao golpe de Estado e à política destrutiva da direita cresce. Independentemente de se Lula quer ou não.
Lula é um dirigente do movimento operário, portanto, sua base política se baseia nestes setores, que o empurram para a esquerda do regime. Lula simplesmente não pode ignorar sua base, precisa manobrar de alguma forma junto a ela. Desta forma, o Lula conciliador de agora, do momento pós-golpe de 2016, não é o mesmo Lula conciliador de 2002/2006. O Lula de agora está bem mais radicalizado do que em outros períodos, pois é a expressão do movimento contra a direita.
Desta forma, é um erro acreditar que setores reformistas não possam ser um fator de polarização. Dirigentes como Lula, cuja base está na classe operária, podem sim ser a expressão da polarização, uma vez que sua base social os pressionam para a esquerda. Por outro lado, Lula pode até querer conciliar com a direita, mas fato é que isso não é recíproco; a direita está levando adiante uma política de ofensiva contra a esquerda e não de acordo. A polarização, portanto, independe do próprio Lula.
O discurso de Florestan Fernandes Jr. mais parece uma tentativa de apresentar um PT agradável para a burguesia. Por isso afirma: “Quando eu comecei na reportagem de televisão, o mantra repetido à exaustão no rádio e na TV era de que o PT era sectário, radical e não fazia concessões políticas. A história provou exatamente o contrário. Ao chegar ao poder, o PT fez concessões até demais. Governou com desiguais e tinha, em seu governo, intelectuais, trabalhadores, empresários e banqueiros”. Ou seja, não temam o PT, pois este não é revolucionário.
É uma tentativa, comum atualmente na esquerda pequeno-burguesa, de tentar apresentar um PT aceitável para a burguesia, uma forma de buscar um acordo com setores que não o querem. Como foi comprovado, a direita não quer esta aliança. Ou melhor, até apresentam-na, mas como forma de conter a mobilização política dos trabalhadores por meio de uma Frente Ampla.
Desta forma, o discurso de Florestan Fernandes é totalmente fora da realidade, pois a polarização existe e o crescimento de Lula como dirigente é produto dela.