O ator Flávio Migliaccio foi encontrado sem vida em seu sítio em Rio Bonito, nesta segunda feira, dia 4. Segundo boletim, ele cometeu suicídio e deixou uma carta de despedida melancólica, onde expõe o fascismo no país, que dizia: ” Me desculpem, mas não deu mais. A velhice neste país é o caos como tudo aqui. A humanidade não deu certo. Eu tive a impressão que foram 85 anos jogados fora num país como este. E com esse tipo de gente que acabei encontrando. Cuidem das crianças de hoje! Flávio.”
Flavio foi um ator, produtor, diretor e roteirista brasileiro. Nasceu no Brás, na cidade de São Paulo, de uma família proletária de dezessete filhos, no dia 26 de agosto de 1934. Descobriu sua veia cômica atuando em peças de teatro na periferia e até chegar como ator principal e diretor, ele precisou arrumar outras ocupações para sobreviver, como balconista e mecânico. Sua carreira como ator profissional começou no conhecido Teatro Arena, em 1954 depois de fazer um curso de teatro do diretor Italiano Ruggero Jacobbi. Em 1962 ajuda a criar a organização Centro Popular de Cultura (CPC) associada a União Nacional de Estudantes (UNE), um grupo intelectual de esquerda, com intenção de criar uma forma de engajamento político com uma “arte popular revolucionária”, que foi extinto pelo golpe militar no Brasil em 1964.
Embora alguns o conheçam por trabalhos em novelas, seus maiores destaques foram atuações em peças de teatro, como “Eles não usam black-tie” e “A Revolução na América do Sul”,também em filmes, como “A Hora e a vez de Augusto Matraga”, obra de Roberto Santos baseado no conto de Guimarães Rosa que faz parte do livro “Sagarana” e o mais lembrado deles “Cinco Vezes Favela”, onde foi roteirista. Em todas as obras que ele participou, tinham intenção de mostrar aos espectadores a luta de classes e a exploração da classe operária. Flávio diz que ele com seus colegas estavam sempre discutindo política, o tempo todo, que até no banho se discutia política. não paravam um minuto, em busca do “Homem Brasileiro”, como no teatro, na literatura e inclusive no cinema. O Brasil todo estava em busca desse “Homem Brasileiro”.
Em 1º de abril de 1964, apoiadores do Golpe Militar incendiaram a sede da UNE (União Nacional dos Estudantes), aonde funcionava o CPC e Flávio Migliaccio estava lá. Conta o ator, que houve a notícia de que naquele dia, as armas estavam para chegar e eles tinham que resistir. Conta também que todos que ali estavam, lutaram contra a ditadura. Conta, que na época, alguns foram revolucionários mesmo e dentre eles, alguns foram mortos, outros presos, outros se esconderam.