Colunista do jornal O Globo, da Família Marinho, e também da Rádio CBN (também da Família Marinho), bem como comentarista da Globo News (que também pertence à Família Marinho), Merval Pereira é conhecido justamente pelo apelido de “A voz de Deus”, porta-voz oficial da Globo.
Todos sabemos que a Globo é o maior aparelho de “fake news” da história deste País. Merval costuma apresentar em seus espaços a visão de seus patrões, frequentemente distorcendo os acontecimentos para impor o ponto de vista da burguesia imperialista.
Em sua coluna dessa quarta-feira (03), não foi muito diferente. No entanto, o jornalista muito bem informado disse alguma verdade.
A eleição na Câmara, principalmente, mas também no Senado, foi para o bolso do presidente ilegítimo Jair Bolsonaro. Conseguiu comprar a maioria das meretrizes políticas que se vendem a troco de cargos no Congresso Nacional. E, assim, “desfez a centro-direita” que se apresentava como possível oposição nas eleições presidenciais de 2022.
PSDB, DEM e MDB votaram, em sua maioria, em Arthur Lira, abandonando o barco de Baleia Rossi na Câmara. Desta forma, segundo a “voz de Deus”, até o queridinho da burguesia João Doria terá muitas dificuldades para ser o candidato presidencial do PSDB.
Apresenta-se, assim, um cenário político no qual a direita tradicional vê seus políticos lhe serem infiéis, e que podem repetir a dose e se vender novamente para apoiar Bolsonaro para a reeleição à presidência da República.
Vendo Bolsonaro ganhar força e percebendo a sua própria debilidade, a direita “democrática”, “humanista”, “científica”, “civilizada”, “progressista”, “tolerante” e até mesmo “antifascista” poderá, definitivamente, abraçar o fascismo, ou seja, se render a Bolsonaro.
É exatamente o que diz a “voz de Deus”. Mas ele diz apenas uma “meia verdade”. Vejamos.
“Se não houver uma candidatura de centro-direita ou de centro-esquerda palatável para derrotar Bolsonaro e o PT, Bolsonaro ganha fácil. Se for de novo esquerda contra Bolsonaro, ganha o Bolsonaro. Não tem discussão”, comenta Merval.
O que ele está dizendo é o seguinte: a direita, diante da impossibilidade de emplacar um candidato próprio, “civilizado”, vai apoiar Bolsonaro. Isso é perfeitamente possível. Temos precedentes, basta lembrar da eleição de 2018, quando a burguesia não conseguiu emplacar Geraldo Alckmin e teve de, no segundo turno, optar pelo candidato fascista contra Fernando Haddad (PT).
Mas Merval, em nome da Globo (ou seja, em nome da burguesia) fala essa “meia verdade” a fim de chantagear a esquerda para que ela fique a reboque da “centro-direita” (João Doria? Luciano Huck?) ou da “centro-esquerda” (Ciro Gomes?), com medo de perder para Bolsonaro caso tenha uma candidatura própria. Por isso Merval adverte: a esquerda não tem chance de derrotar Bolsonaro. Se a esquerda não apoiar a direita, ou seja, se não ficar a reboque da direita, não terá chance.
Como se forças sobrenaturais fossem levar Bolsonaro à vitória, e não que a direita, a burguesia, que se passam por “democráticas” e “civilizadas”, dariam carta branca para Bolsonaro, o fascista.
Mas Merval omite uma coisa: a esquerda tem chance, sim. E essa chance vem justamente com o ex-presidente Lula, único realmente capaz de derrotar Bolsonaro.
Diz a “voz de Deus”: “O sonho maior do Bolsonaro é que esse candidato seja o Lula. Pra ele é melhor ainda, porque aí polariza realmente, radicaliza, e vamos ter 2018 de novo.”
Mais uma chantagem: não tentem colocar Lula na jogada, porque ninguém vai apoiar vocês e a esquerda ficará isolada e vai perder as eleições para o fascismo. Vocês querem permitir a vitória do fascismo? Claro que não, então deixem Lula de lado e venham para o nosso colo!
Isso é uma comprovação de que a esquerda tem chance justamente com Lula. Por isso Merval e a burguesia já se adiantam para tentar evitar essa situação. Querem colocar a esquerda ao seu reboque, para que a direita tenha maiores possibilidades de derrotar Bolsonaro e, ao mesmo tempo, para anular a independência da esquerda.
A esquerda precisa entender essa situação e aprender com a derrota vexaminosa na Câmara dos Deputados, em que ela terminou praticamente sozinha ao lado de Baleia Rossi, e toda a direita foi para o colo do candidato de Bolsonaro.
Lula não só tem chances de derrotar Bolsonaro, como ele é o único com possibilidades reais. E essas possibilidades vêm da ampla base popular que sustenta o PT e o próprio Lula, como a CUT, o MST, a UNE e os movimentos sociais. Não podemos esquecer que, mesmo impedido de concorrer, em 2018 as pesquisas da própria burguesia davam 40% de intenções de voto para o ex-metalúrgico.
E mais do que a própria candidatura, Lula é capaz de mobilizar amplas massas para derrotar Bolsonaro, o bolsonarismo e o próprio golpe. Nas ruas Lula e a esquerda veem seu caminho para a vitória, com o enfrentamento concreto com a direita, sem acordos e conchavos com os pais e as mães de Bolsonaro. Sem frente ampla, que se mostrou um verdadeiro fracasso. É preciso garantir os direitos políticos de Lula, sua candidatura e sua vitória em 2022.