A chacina do Jacarezinho, ocorrida há exatamente uma semana, deixou até o momento 27 cidadãos e um policial mortos. Foi a maior da história da cidade do Rio de Janeiro e o que chama mais atenção é que foi realizada não pela Polícia Militar, mas pela Polícia Civil.
O acontecimento mostra a confusão na qual uma parcela da esquerda insiste em cair. Há uma reivindicação tradicional da esquerda pequeno-burguesa sobre a “desmilitarização” da polícia. Ou seja, para que a PM não tenha mais o aparato e treinamento militar, transformando-se em uma polícia civil. Contudo, Jacarezinho é exemplar: a Polícia Civil é tão assassina quanto a militar. O problema é que a essência de ambas, assim como de qualquer outra polícia, está na defesa da propriedade privada do Estado burguês através do esmagamento da população pobre. A polícia, de conjunto, é uma máquina de matar.
Portanto, desmilitarizar a polícia não é o suficiente. As chacinas e execuções continuarão ocorrendo. É preciso dissolver as polícias. Acabar com a polícia permanente.
Como ficaria, então, a segurança dos cidadãos? Visto que uma polícia controlada pela burocracia estatal nunca trabalhou para a proteção do povo, para que isso ocorra é preciso tirar a polícia do controle do Estado. Deveriam ser criadas no lugar das polícias que conhecemos hoje polícias cidadãs, comunitárias. Ou, em outras palavras, milícias populares.
A verdadeira polícia civil deveria ser formada pelos cidadãos comuns, eleitos pela comunidade onde vivem para fazer a segurança daquela comunidade. Ao invés de ser uma carreira no Estado, como é hoje, o cargo de agente de segurança seria temporário. Por exemplo, os moradores de uma determinada localidade seriam eleitos para um certo período de tempo de serviço na milícia, assim como são os vereadores ou deputados. E os cidadãos deveriam, além de eleger, depor os agentes de seus cargos caso estes não cumpram suas obrigações. Os seus “mandatos” como milicianos poderiam ser derrogados a qualquer momento conforme a vontade popular.
Nas mãos do Estado, qualquer polícia criada ou reformulada irá, inevitavelmente, seguir o mesmo roteiro das outras. Porque essa é sua natureza. Somente sob o controle estritamente popular, destruindo completamente sua estrutura atual, é que aquilo que hoje chamamos de polícia poderá servir à população.
A polícia hoje pertence a um sistema muito bem definido de dominação de classe. Ela serve para controlar a revolta popular, para garantir que a exploração seja mantida, através da mais violenta repressão contra as classes oprimidas. A burguesia sabe que é impossível que o povo aguente calado toda a exploração que sofre, e que ele sempre irá se rebelar. Por isso a necessidade da existência policial. Para impedir, na base da força bruta, essa rebelião.
O povo pobre, assim, passa a vida inteira sendo maltratado, humilhado, torturado pelo Estado personificado na polícia. O Estado chega nas favelas e bairros operários na forma da polícia ou do exército para massacrar a população, e não na forma de programas sociais para distribuir renda e promover políticas públicas que ao menos mitiguem esse sofrimento.
É preciso extinguir esse órgão de extermínio e em seu lugar formar milícias populares que realmente atendam às necessidades do povo.