Cotidianamente, é possível perceber como diversos setores da burguesia trabalham focando seus esforços em criminalizar a mulher da classe trabalhadora. Dessa vez, as afetadas são as mulheres que se prostituem na Holanda, já que o parlamento prevê um debate sobre a legalização da prostituição no país. A discussão, claro, é totalmente relevante e necessária, afinal, a prostituição é uma das formas mais baixas de exploração da mulher pelo mercado capitalista. Contudo, a discussão e solução que estão sendo apresentadas e discutidas, giram em torno de punir as mulheres que se prostituem, a fim de diminuir a exploração e opressão que sofrem, algo obviamente contraditório.
A criminalização de mulheres da classe trabalhadora conseguiu unir feministas da esquerda pequeno-burguesa e mulheres cristãs, o que não chega a ser surpresa para quem analisa a questão da mulher do ponto de vista de classe. Um dos primeiros pontos que deveriam ser discutidos, é sobre quem é a mulher prostituta na Holanda. Muitas são imigrantes, o que agrava mais ainda a discussão, tendo em vista que essas mulheres saem de seus países em busca de estabilidade financeira e muitas vezes ficam alocadas em subempregos e ramos da prostituição. Outra questão interessante a se pensar é de onde as feministas pequeno-burguesas, do auge do conforto de suas casas, tiram que a discussão da prostituição deve girar em torno da criminalização das mulheres que o fazem, ao invés de discutir a raiz do problema, as desigualdades sociais que o capitalismo produz e reproduz cotidianamente? Em nenhum momento é colocado em xeque a responsabilidade que o capitalismo e a exploração de classe tem nesse problema. Esse feminismo liberal contribui tanto quanto a direita para manter a mulher nos grilhões da exploração e opressão.
Um dos argumentos típicos da esquerda pequeno-burguesa é afirmar que a prostituição existirá enquanto as mulheres forem vistas como objetos, como produtos consumíveis, mas em nenhum momento discutem de onde vem essa construção do arquétipo feminino, onde a mulher está pronta para consumo. As mulheres são vistas como consumíveis porque um dos pilares do capitalismo é a manutenção da exploração da mulher. Não à toa, a desigualdade salarial e o atraso na obtenção de direitos básicos sempre estiveram no percalço da mulher da classe trabalhadora, que sempre se viu nas piores colocações no mercado de trabalho – acrescentando aí as duplas jornadas de trabalho em casa.
Se existe a necessidade das mulheres se prostituírem, é porque todas as tentativas de se colocarem no mercado de trabalhos formais, foram dizimadas. É porque, muito provavelmente, o salário era tão baixo que não conseguiriam manter suas casas, suas famílias, seus filhos, pagar a faculdade, etc., essas mulheres não podem ser criminalizadas por tentarem, simplesmente, sobreviverem. É um engodo pensar que a criminalização da prostituição vai enfraquecer as agressões que as mulheres sofrem, na verdade, têm tudo para aumentar. Um trabalho desse na ilegalidade supõe que elas vão ter que fazer mais programas para possivelmente pagar propina à polícia, supõe que serão mais negligenciadas em atendimentos médicos, com mais chances de propagação de doenças e mais marginalizadas ainda.
Essas moralidades que a direita da igreja católica insiste em propagar, e que a esquerda pequeno-burguesa adora fazer coro, só visam a marginalização, criminalização e exploração da classe trabalhadora, principalmente das mulheres. Transformam em legislação qualquer autonomia que a mulher possa ter sobre seu corpo e depois usam isso para intensificar a opressão de gênero e exploração de classe. Num sistema espoliador, como o capitalismo, é impensável que não haja profissões que não vão sugar a dignidade do trabalhador, fazendo com que ele tenha que se sujeitar aos piores níveis de exploração, sendo assim, é impensável que as pessoas não vão procurar subempregos e outras formas de se virar, por isso, criminalizar a prostituição é criminalizar a classe trabalhadora. Arranjar mais uma forma de punição que encarcera os pobres é a solução das cristãs e feministas pequeno-burguesas.
A discussão da prostituição não deve girar em torno de moralidades, mas, sim, em torno da questão econômica que fez essas mulheres chagarem ao ponto de venderem seus corpos e como uma patologia social fez com que existissem clientes, homens que pagam por sexo. A emancipação da mulher trabalhadora não vai vir da criminalização de sua existência, nem do desestímulo de sua autonomia, a emancipação da mulher trabalhadora virá quando toda a opressão de gênero e exploração de classe não mais existirem, daí a prostituição e seus derivados não mais serão necessários para a manutenção da vida.