A ex-vereadora Madalena Leite, conhecida por ser a primeira vereadora travesti de Piracicaba, foi assassinada na madrugada desta última quarta-feira (7) na cidade. A Polícia Militar diz ter encontrado o corpo na casa da mesma, com diversos sinais de violência, principalmente no rosto. O pior é que, além de tudo, se tratava de uma pessoa idosa, visto que a vereadora possuía 64 anos na data de sua morte. Somente quando um vizinho que frequentava a casa da mulher e viu seu corpo jogado no sofá, percebendo logo que o portão da frente estava apenas encostado, foi que se deu a primeira notícia à polícia – que não tem suspeitos para o crime até então.
Madalena foi eleita para seu primeiro mandato ainda em 2012, obtendo o segundo melhor desempenho de seu partido (PSDB). Não tentou, entretanto, as reeleições de 2016, sendo afastada do cargo ao ser diagnosticada com um câncer de próstata. Não obstante, disse na época que as agressões racistas e homofóbicas sofridas nas redes sociais a motivaram a largar a carreira política.
Na realidade, no caso de Madalena, esta situação é exatamente o retrato do que a extrema direita faz com as pessoas que desafiam seu padrão, seu status quo. Diariamente, se procurarmos, encontraremos novas notícias de travestis, trans e casais gays assassinados. A própria polícia está tratando o caso de Madalena como um possível homicídio. Não falam, no entanto, que existe uma grandíssima probabilidade de o caso ter um viés político.
Menos de um mês atrás, a polícia começou a investigar três ataques a vereadoras trans do PSOL (Partido Socialismo e Liberdade). A vereadora Erika Hilton, na ocasião, teve seu gabinete invadido por um homem que dizia ser o responsável pelos ataques virtuais que a mesma vinha sofrendo. Quase como Madalena, que ficou em segundo lugar, ela havia sido a parlamentar mais votada de sua eleição. Já Carol Iara, do mesmo partido e titular da chapa coletiva Bancada Feminista de São Paulo, teve sua casa alvejada por tiros no mesmo mês. O mesmo aconteceu com a vereadora Sosthenes, integrante da chapa Quilombo Periférico.
Estas tiveram mais sorte que Madalena, felizmente. Entretanto, enquanto não lutarmos não existirá qualquer perspectiva de melhora ou de uma solução a curto ou médio prazo. São mortes – tanto a de Madalena quando as do COVID-19 – que poderiam facilmente ser evitadas num regime voltado para as necessidades reais do povo brasileiro.
Tais fatos ocorrem, entretanto, devido ao próprio imobilismo da esquerda. Tal como foi em 2014, 2015 e 2018, enquanto a esquerda fica em casa a direita e seu discurso tomam as ruas e aterrorizam a população. O Diário Causa Operária vem diuturnamente denunciando a necessidade de a esquerda sair às ruas e recuperar o espaço de manifestação, garantido, inclusive, com muito suor e sangue. É por isso que saímos no dia 31 de março contra a Ditadura e é por isso que sairemos no dia 1º de Maio novamente. Ficar em casa neste momento é chancelar a passagem do trator da extrema-direita contra o povo.
A maior parte da esquerda nacional ignora a enorme gravidade da situação e as crescentes ameaças ao povo, de forma que prefere ficar em um estado de inércia ao invés de agir. A única perspectiva de mudança virá tão somente através da luta nas ruas, da luta contra o regime golpista e suas instituições. Madalena não faleceu de COVID, foi assassinada, entretanto entra para a mesma pilha de corpos que os outros 350 mil mortos pelo regime pós-golpe de 2016.
Como já dito anteriormente neste mesmo jornal: a derrota do golpe e da ditadura que a extrema direita deseja implantar no País, assim como a interrupção do genocídio como resultado da escalada descontrolada da pandemia em todos os estados, só poderá ser obra da ruptura com a paralisia, com a inércia que se apoderou de determinados setores da esquerda brasileira. Que está confinada em sua zona de conforto, em suas casas, enquanto milhões de brasileiros estão obrigados a lutar pela sobrevivência, aglomerados nos transportes públicos das grandes cidades, fonte maior de disseminação do coronavírus. É preciso ganhar as ruas, convocar os trabalhadores e a população para conformar um grande movimento de luta, única forma de impor uma derrota ao golpe, aos intentos ditatoriais dos militares e interromper o genocídio provocado pela inépcia dos governos que atuam contra os interesses da população.
Dos dados sobre o ocorrido:
Segundo reportagem do portal “Istoé” e conforme a PM, o corpo da ex-vereadora foi encontrado por volta de meia-noite e meia por um vizinho. à polícia, ele contou que tinha a chave do imóvel, já que sempre frequentava a casa dela, mas ao chegar no local, encontrou o portão da frente somente encostado. Em seguida, ele acionou a polícia.
A polícia apura, ainda, a motivação do crime e procura por suspeitos. O corpo foi encaminhado para o Instituto Médico Legal (IML). O caso foi registrado como homicídio e encaminhado para o Departamento Estadual de Investigações Criminais (Deic) de Piracicaba.