O professor de Ciências Econômicas do Ibmec, no Rio de Janeiro, prevê que os novos prefeitos encontrarão “um cenário de terra arrasada” quando assumirem. O auxílio emergencial haverá acabado e os cofres municipais estarão mais do que vazios, já iniciarão o ano cheio de dívidas. E, segundo o pesquisador do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (IPEA), José Ronaldo Castro Souza Júnior, “o socorro da União aos municípios não tem como se repetir em 2021”. (Agência Brasil, 3/11/20)
Mesmo sem a crise, o sistema montado no país fez com que os municípios sejam totalmente dependentes quer dos estados, quer da União, 70% dos municípios dependem em mais de 80% de verbas repassadas (Folha de S.Paulo, 7/2/19). No próximo ano o cenário será mais grave. Milhares de empresas fecharam as portas e a arrecadação municipal continuará em queda acentuada. De janeiro a outubro deste anos o repasse do Fundo de Participação dos Municípios (FPM) foi 6,19% menor que o do ano passado, conforme a Confederação Nacional dos Municípios (Agência CNM de Notícias, 28/10/20).
As demandas sociais estarão maiores, e as memórias das promessas ainda frescas. Só aí os eleitos vão dizer aos eleitores que os municípios não têm poder algum de geração de emprego e renda, não têm como investir recursos em saúde (a pandemia estará firme e podendo estar na segunda maré de casos). Fora uma parte das capitais e talvez uma dúzia de municípios do interior dos estados do Sudeste, o resto não tem como buscar recursos de financiamento ou de projetos com agências internacionais.
Os partidos de esquerda provavelmente não conseguirão formar um campo de oposição aos direitistas que se elegerão em massa. Muitos estarão tão comprometidos com a situação, quer por causa de promessas ilusórias e falsas, quer por causa de alianças espúrias que estão sendo feitas pelo país afora. As ilusões eleitorais não são crias dos eleitores, são produto de uma cultura de subordinação a um ideário que mascara a verdade da democracia burguesa.
A possível eleição de um ou outro prefeito de esquerda não compensará a avalanche direitista que imporá uma derrota forte aos partidos de esquerda que reforçam o receituário de apatia social e de credulidade em instituições que, de fato, foram criadas para controlar e esmagar os trabalhadores. É provável que o resultado de 2016 se repita tanto para o PT, quanto para os demais partidos de esquerda, quando o PT perdeu 59,4% de suas prefeituras (UOL, 30/9/20). A direita em geral e também a direita que existe dos partidos de esquerda, dirão que a derrota foi causada por conta de políticas esquerdistas, mas o que está sendo montado é uma derrota por adesão à ilusão de que as eleições, os acordos e as instituições existentes resolvem tudo e são o único caminho viável para a emancipação dos trabalhadores. E apontarão a meia dúzia de vitoriosos em cidades importantes para “comprovar” a tese da aliança de classes e da frente ampla. Nada mais falso.
No momento, a extrema-direita, identificada com o governo golpista, também está mostrando que tenderá a perder nas grandes cidades, quer para alianças de partidos de direita ou de centro, com alguma participação da esquerda. Mas no quadro geral, o que se observa é um cenário ainda mais direitista das administrações municipais para os próximos 4 anos.
Em vez de caminhar sobre a “terra arrasada” que virá para construir a consciência de a única alternativa é os trabalhadores conquistarem o controle do Estado, por meio de um governo dos trabalhadores, é possível que a esquerda venha a repetir modelos de discursos culpando o PT por ser hegemônico ou ladainhas assemelhadas, ou tentando encontrar, em seminários intermináveis, alianças mais à direita para justificar possíveis cenários de vitória deste ou daquele que teria chegado ao segundo turno e não ganhou.